segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Sim, depois de anos...

Eu estava ainda me alimentando, sentada numa mesa na praça de alimentação, esperando minha sessão começar. Notei que havia algo errado quando vi uma moça grandona chorando aos soluços. Virei o pescoço e bati os olhos num homem de barba com os olhos vermelhos e cheios de lágrimas. Assustada, olhei em volta, e reparei que uma em cada três pessoas estava em prantos. Minha mesa ficava na frente da saída das salas de cinema, e em pouco tempo percebi que as pessoas estavam saindo do filme que eu tinha pago para ver.

Sim, paguei para ver Marley e Eu, em todos os sentidos literais ou metafóricos possíveis. E não foi por causa daquela multidão chorosa que descobri como me sentiria a respeito do filme, já era bem óbvio, mas, ainda assim, paguei pra ver.

Marley e Eu não é um filme surpreendente, é inclusive bem fácil entender o porquê dele ter se tornado o hit natalino da vez. Já sabemos que há um apelo canino, uma via fácil de identificação de boa parte da população. Sabemos também que ele é baseado num Best Seller de não-ficção, ou seja, mergulho na vida real de alguém que deve ser gente como a gente. Não, não há um terceiro fator, é exatamente por isso que as pessoas estão pagando (literalmente) pra ver, porque elas se identificam com o cachorro e com o casal.

Eu nunca tive um cão, ainda não me casei, não tenho filhos, mas ainda assim me emocionei com a história. Isso acontece porque ela fala basicamente de escolhas, de lidar com as frustrações da vida, e, principalmente, com o tempo que passa.

Vemos o tempo passar com Marley, o pior cão do mundo, que entre devorar móveis e eletrodomésticos, vê seus donos tendo que lidar com as responsabilidades da vida. O casamento, a profissão, a paternidade, escolhas que devem ser feitas, e que por mais que possam mudar o rumo das coisas, não devolvem o tempo que passou. Marley está lá para mostrar que quando o cão de liquidação foi escolhido para dar início àquela família, o passo estava dado para a criação de um laço que vai muito além do que queríamos ser, que está no que efetivamente somos. Ou nos tornamos.

Assim como Marley, o tempo não pode ser mandado embora por estar atrapalhando, ele existe e faz parte da vida dos protagonistas, assim como da nossa. E a existência do tempo e de Marley nos faz ver de que é feita a vida, de constantes e intermináveis sacrifícios e recompensas, que vão fazendo nossa história e nos permitindo algum grau de felicidade, nos momentos a ela reservados.

Não me entendam mal, não estou dizendo que Marley e Eu é um filme revolucionário que me mudou a forma de enxergar a vida. Na verdade é um filme água-com-açucar, com alguns momentos engraçados, e sim, feito para chorar. Mas a banalidade da história pode mexer com algumas realidades conformistas, que se confortam com o final feliz? Sim. Os conformistas de verdade merecem tapinhas nas costas? De jeito nenhum, chutaria eu mesma alguns traseiros por aí. Mas pra mim o filme é um deleite para aqueles que estão certos das escolhas que fizeram, e que se esforçam pra encaixá-las da melhor maneira possível em seu ideal de felicidade. Com ou sem casamento. Com ou sem cachorro.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Pshhhhhhh!

Ela pensou naquela madrugada, que era hora de recomeço, e que era hora de decisão.
Viu que havia um novo ano chegando, e decidiu decidir e ser firme nas resoluções.
Sentiu que a vida estava frágil, que a bagunça era geral, mas sentiu que podia por tudo em ordem, organizar por cores e importância, talvez ordem alfabética.

Ligou para sua amiga maior, e confidente, contou de um ponto de partida.
Ouviu a risada habitual, a graça, tudo aquilo que já conhecia e que denunciava os anos. E os anos denunciavam que certas amigas acham que nos conhecem melhor do que nós. Então contou que estaria só, naquele ano novo, e que ficaria bem.

E pensou que se conhecia melhor que ninguém, e que tinha mesmo passado aquela idéia errada, mesmo pra quem viu os anos passando com rumo. Mas uma idéia é só uma idéia, o que sabia era da verdade. Ela então dialogou com si, voltou a falar das borboletas de Elton John, voltou a falar dos romances que não se complicam pelo mais ou pelo menos. Voltou a falar da riqueza do ser, do peso e da leveza. Voltou a falar de si como um ser único que não precisa de ninguém para existir, existe.

E soube que naquele novo ano, algo especial ia acontecer. E o algo especial era sua vida. Ela pensou naquela madrugada que sua vida continuaria naquele ano. Que 2008, maldito, não a havia derrotado.
E preparou-se para o que queria de um ano novo.
Queria um algo que é doce. Queria um algo que é firme. Queria um algo que é bem. Queria um algo que é de valor. Queria um algo que é possível. Queria um algo que é real. Queria um algo que é rico.
Mas querer não basta, basta?

P.S. Pshhhhhhh!

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

A Christmas Carol

"E os fregueses estavam todos tão apressados e impacientes com as promessas do dia, que tropeçavam nas portas chocando-se com as bolsas de vime, esquecendo suas compras no balcão e depois voltando às pressas para apanhá-las, e cometendo centenas de erros semelhantes com o melhor humor possível; enquanto isso, o merceeiro e seus empregados eram tão francos e cordiais que as lustrosas fivelas em forma de coração que prendiam seus aventais bem que podiam ser o seu símbolo, os seus próprios corações usados do lado de fora, expostos à inspeção de todos, para qualquer um se servir deles no Natal."

Charles Dickens

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

DESTINATÁRIO IDENTIFICADO: você.

(É...)

Se pudéssemos medir
o quanto do longe que nos afeta
Se conseguíssemos saber
até onde nossa mente fantasia
Não seria necessário revelar
e seria aceitável mentir para nós mesmos
Devanear que o real é de mentira
E nos convencer da nossa loucura.
Se pudésemos ter a certeza
de que o que pensamos é pura besteira
Não precisaríamos nos repetir e nos dizer
que o que pensamos é besteira pura.
Não seria necessário lutar
contra nossa falta de razão,
que busca racionalizar
as tantas emoções.
Se o lunático se mostrasse em sua certeza,
de que o longe e intangível faz o que faz,
que as coisas são como são,
que cada um é de quem é,
que o controle é mínimo,
que o predestino é real,
que ele chegou atrasado,
e que ele está fora da órbita deles,
sua lua estaria mais próxima,
seu mundo seria menor, mais caminhável,
sua fantasia seria vivível,
e acharia o que é seu por direito.

(Sim...)

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Mudando a figura.

Não me fale de borboletas.
Inseto efêmero de beleza duvidosa.
Seres-gentes como nós não voam, e não têm vida tão besta.
Não me fale de flores.
Flor é só flor, tem cheiro e tem cor, mas não vira sentimento.
Seres-gentes como nós vivemos romances de verdade.
Não me fale de lua.
A lua está muito longe, e não passa de um satélite sem luz própria.
Seres-gentes como nós controlamos nossa distância e nossa luz.
Não me fale de olhos.
A não ser que sejam seus olhos, e não espelhos, retratos, ou coisas assim.
Seres-gentes como nós, vemos com os olhos, e não sentimos.
Não me fale de chuva.
Chuva é água, muito bem, mas não lava almas e sentimentos.
Seres-gentes como nós não procuramos na chuva a solução.
Não me fale de jogos.
Jogo é passatempo, e na vida o tempo passa independente de nossos movimentos.
Seres-gentes como nós não arriscam sem ter o que perder.
Não me fale de janelas.
São elos com o mundo exterior e nada mais.
Seres-gentes como nós não tem janelas como passagem aos outros.
Não me fale de plantar e colher.
Será que somos vegetais a espera de um plantar?
Seres-gentes como nós, apenas fazemos e aguentamos a consequência.
Não me venha com suas metáforas.
Cansei delas, amedrontei.
Não quero pensar em mim como nada além do que sou, não quero raciocinar pra entender o que me diz.
Sejamos transparentes, como belos seres-gentes.
Não me fale de areia, não quero pensar em mim como caminhão.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Por pertinência.

Em idos de 2005, algum momento acadêmico...


Não me parece terrível, ou totalmente descabido, me perguntar o que estou fazendo aqui. Que motivo extraordinário houve para me tirar da cama na tenra manhã, desembolsar uma pequena fortuna em condução e aqui chegar para descobrir a terrível enfermidade da garota, da mocinha dada a rebeldia civilista que teima em nos lecionar o que outrem ache conveniente, e que a impediu de comparecer ao nosso encontro de hoje, conferindo-nos verdadeiro bolo! Para descobrir que o professor mal-amado mor trouxe da Itália o seu amante italiano, que o ama muito mal, para nos falar sobre algo que deve ter algo de útil, mas que se inutiliza completamente no momento em que não entendemos absolutamente nada que ele, aparentemente, fala.
Que diabos ele está falando aí? Ave, hã, o que? Dentro de instantes estarei indo (na melhor construção estar + gerúndio) embora. Fora daqui!

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Marcelo

Deu uma de abestalhado
jogou meus sonhos no chão
No alto de sua loucura
partiu meu coração
Pirou na batatinha
agiu como fanfarrão
Perdeu a credibilidade
ganhou fama de bobão
Fez o inexplicável
perdeu toda a noção
Escolheu o desprezível
pra servir de inspiração
Virou o cara vencedor
no final dessa canção
Escolheu a criatura errada
pra qualquer homem são
Enquanto a certa está atordoada
rimando tonta em vão
Cansada ela de querer
o amor desse bufão.

sábado, 22 de novembro de 2008

Janelas

Vejo tantas janelas
abertas de luz e vento
fechadas de noite e sombras
cortinas de vermelho e pano

Fecho nervosa
tremo assustada
janelas de passagem
de chãos sem tetos
de cobertura sem sustento

Vejo tantas, escancaradas
batendo ao vento, brilhando ao sol
escondidas de vidro
expostas de sombras.

domingo, 16 de novembro de 2008

Saiba que nada sabes.

Nas belas palavras de amiga que tenho,
aprendi e ensino que o eu-lírico não é lá muito confiável.
Não sou eu, não por inteiro.
Ele é falho e esconde muita inteira verdade,
mostra verdades meias.
Então não se iluda com o que lê
não se empolgue com o que acha
ó, Mágico da Felicidade.
Não é imaginando e voando tão longe com a criação de suas verdades que saberá a minha.
A minha é só minha.
Não vá tão alto com suas mentiras
pois a realidade não se transforma
é crua e cruel, e dela não esqueço.
Não deve esquecer também.
Não é forjando minhas verdades que virá o inculpável ou impunível.
Posso ser louca de escrever, louca das palavras.
Mas sou mais louca de não esquecer, louca das lembranças.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Fumaça e Cinzas

A cinza fumaça que limpa a mente do trabalhador
andando impassivo e dormente entre as fábricas
trabalhando mecanicamente sua emoção e sem amor
esquecendo da noite que provou suas lágrimas

A cinza fumaça que vem da comida do fogão
essa fumaça com sabor que embarga o olhar
o cheiro de comer pra quem tem o seu quinhão
esquecendo de um tempo que a fome ia roncar

A cinza fumaça que deixa o fumante impregnado
cai no chão espalhando sua cinza em pó
e o cheiro que sai da camisa deixa o sentido embriagado
que faz lembrar de alguém e ver que está só

A cinza fumaça que vai saindo do cigarro
o cigarro que vai tirando a fome e sujando o chão
o trabalho adormecendo as lembranças em que esbarro
e o cheiro (cinza) amolecendo o coração do peão

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Trilogia

Não somos jogos
somos puros
somos límpidos

Não temos artimanhas
somos claros
somos nítidos

Não nos escondemos
somos luz
somos lúcidos

Não somos jogos
somos maduros
somos adultos

Somos egos
e somamos eros
Somos mulheres e homens
Somos vivos
Mas não jogamos
pra não perdermos
pra sempre ganharmos.

Não somos jogos
somos egos
somos eros
somos juntos

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Fim e começo.

*** ***

*** Conversinha ***

Começa uma história
a ser escrita
Pronta pra ser florida
habilitada à tragédia
Nasce um caminho
de amor e ódio
de ódio e rancor
de rancor e amor
Caminho comum
história comum
Rumo misterioso
Começa um caminho de dois misteriosos
Nasce uma história que é igual e que é novidade
Quem espera prosperidade
teme rejeição
pressupõe o interesse
julga procedente
a história e o caminho
as novidades misteriosas
o risco e a coragem
a vida que segue.

(Prática cível, 20/10/2008)


*** ***


*** Cala-te ***

Um bibelô de cristal
frágil como um momento
a ser cuidado com apreço
preservado com delicadeza
pra que não perca seu tênue brilho
tão caro a quem o quer
pra que seja sempre o mesmo
com seu encanto e sua magia
que não apague e esmoreça
que não se torne um reles enfeite
além de inútil, não belo
além de pequeno, indesejado.
E rachou-se já
cristal que não resiste ao ácido sarcasmo
brilho que se perde na defesa espinhosa
de um brio e um orgulho que não valem um tostão
se medidos na moeda do ser que sente
na moeda da vida, aquela que se paga na mesma.
Demais negligência e acidente
leve rachadura ou em pequenos pedaços quebrado - espatifado
não é mais o mesmo - igual
não é mais o objeto perfeito (mas...)
cola-se tudo e vira mosaico colorido
pedaços perdidos juntados com pressa e com algum transtorno
novo quadro disforme
talvez confuso, talvez rebelde.
Cala-se tudo e vira arte.

(Direito Econômico, 29/10/2008)

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Ri-(a)-mando... (e odiando)

(Esperando Paulo Pimenta, 22/10/2008, interrompida por Márcio, o Belazzi.)


Criando versos num caderno colorido
Citando mágoas de um amor sofrido
Imaginando uma vida perfeita
Desprezando a realidade já aceita
Ironizando as belezas reais
Valorizando sonhos ideais
Julgando mal a sabedoria do mundo
Castigando um coração vagabundo
Cantando canções sem alegria
Guardando a inspiração tardia
Jantando do pior veneno
Esperando um verão ameno
Suando, cansada, sozinha
Andando sem sair da linha
Lançando o juizo à sorte
Tentando ser sempre forte
Estudando a mínima possibilidade
Evitando julgar a saudade

(...)

Pensando. E escrevedo.
Gerúndio que não rima.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Rebeldes.

(Jonhson Meira, parte 1)


- Se segure, não deixe o vento te levar.
É melhor se equilibrar...
Esses temporais são perigosos.
Tenha medo de se perder,
proteja-se da tormenta.
Controle-se: camisa-de-força.
Tente não ser muito louco,
procure não se jogar.
Dê seus passos com cautela,
se esconda antes de fugir.
Enxergue a chance do azar,
e corte ela pela raiz.
Não deixe, não deixe ele chegar.
- Segure, não deixe o vento partir.

E calem a boca!
Você não manda em mim.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Via crucis.

Me atiro e me quedo,
não fujo.
Espero e atento,
sei quando chego.
Me assusto e me escondo,
morro de medo.
Não nego e confesso,
aconteço.
Me culpo e me digo,
quase machuco.
Enxugo e respiro,
novo renasço.
Me aceito e agrado,
nunca esqueço.
Sorrio e abraço,
enlouqueço.
Me vivo e me morro,
ressuscito.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Sem saber, proteção.

Não sei o que faz de mim o que eu sou.
Sei que minha história vai passando
Sei que os dias vão chegando
Sei que as coisas vão acontecendo
Sei também que é meu costume me defender.
Vivo tomando pancadas.
A história e os dias são confusos
as coisas acontecem meio atrapalhadas, montadas.
Eu me protejo.
Não sei o que me faz me proteger como faço
Ficar escondida e encolhida atrás do meu escudo
parecendo armada e perigosa.
Não sei o que me faz afastar os outros assim.
Na verdade eu quero é ser protegida.
Sou indefesa e sou inocente.
Meu espírito é frágil.
Minha tendência é me machucar.
Fico esperando alguém disposto a cuidar de mim.
Alguém que se veja forte o suficiente, capaz o suficiente
pra ficar do meu lado.
Não é fácil, eu bem sei.
Queria saber o que faz de mim o que eu sou pra buscar proteção.
Esse ser estranho e avesso.
Essa gente incomum, ora perfeita, ora deixável,
ora qualquer outra coisa.
Sei quem eu sou, mas não entendo.
Me protejo de mim.


Em 09/09/2008.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Acabou. (boa sorte)

(Esse é velho, mas o título é novo :P)


Cada dia um dia a menos.
Um dia a menos para o fim.
O fim do sofrimento
o fim da alegria.
Tudo é certo de acabar.
O momento bom vem e acaba com a tristeza,
e a decepção vai desmanchar a felicidade.
Sombras de viver.
Fumaça sem cor se formando e devanescendo
Sentimentos passando, viajantes profissionais
Sem fim, sem destino
Acabam, emudecem.
Acolhidos na penumbra, protegidos do temporal
Fogem, acabam
Com os dias a mais
Que subtraem
Os dias aproximam o fim
E quero que acabe.

terça-feira, 30 de setembro de 2008

Acordando.

Deixa eu acordar.
Já é hora, né.
Abrir o olho.
Ver.
Tem realidade que é bonita.
Tem hora que é melhor acordado mesmo.
Tem coisa que acontece,
sem que a gente sonhe.
Acontece.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Marcelo.

Deixa eu brincar de ser feliz.
Deixa eu sonhar com o impossível.
Deixa eu achar que pode ser meu o que não é.
Que vai vir pra mim o que não virá.
Deixa a fantasia me deixar contente.
Deixa a imaginação me fazer sorrir.
Eu que andava tão triste,
eu que vivia carente.
Agora estou aqui, apaixonada.
Deixa eu gostar do sorriso bobo, sem graça.
Deixa eu gostar do corpo orgulhoso, sem caber de emoção.
Deixa eu achar que aquela alegria linda era por mim - e também era.
Mas deixa eu querer ele pra mim.
Eu quero os olhos castanhos em mim,
a barba em minha pele,
a voz no meu ouvido,
e o sorriso em minha vida,
como está agora em meus sonhos.
Deixa eu brincar.
Deixa eu ser feliz.
Deixa eu te querer.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Senhorita Lunática.

Uma vez me disseram que eu era a "menina da lua,
Olhe mas não toque", era eu.
Mas eu não sou assim tão bonita, nem tão brilhante.
Talvez eu seja mesmo distante.
Pode ser fácil me ver, mas poucos vão querer me tocar.
Vai soar sempre uma tarefa difícil,
difícil demais para valer a pena.
E assim como essas coisas que são feitas apenas para ver,
enjôo,
não sou como essas coisas feitas para se viver.
Mas querendo ou não vivo,
mesmo longe, e mesmo só,
e querendo ou não continuo brilhando.
Pois a luz me ilumina sem cansar.
Eu canso, às vezes é difícil suportar o fardo
de ser olhada sem ser tocada,
de ser tocada e depois deixada.
A menina da lua é distante,
e sozinha, e talvez esse seja seu destino,
de estar sempre longe, um sonho vago, uma névoa.
Mas tenho também um quê de lunática,
de observar à distância,
de imaginar e divagar, de sonhar acordada.
Esse jeito ao invés de me isolar,
me afasta de mim e me aproxima do mundo.
Para ser bem tenho que deixar de ser eu,
e admirar-me.

terça-feira, 23 de setembro de 2008



Em breve a série: textos do meu caderno, diretamente das aulas mais animadoras da faculdade!!

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Sonhando.

Congele o tempo,
pare o espaço naquele momento.
Você ficou feito um tolo,
olhando,
gostando,
o corpo parado e a alma balançada violentamente contra a razão.
E você quis que o tempo não passase nunca,
que a vida não desmanchasse aquele bendito momento,
aquele dito espaço de tempo.
Se você pudesse deixar estático aquele espaço de tempo,
não ia precisar de mais nada.
Era aquela cena linda e eterna,
e lá você preso,
feliz.
Congela a felicidade.
Um bar, uma noite, sorrisos e o som na vitrola.
E o tempo passou.

"Será que algum dia eles vêm aí?
Cantar as canções que a gente quer ouvir?"

Não vieram nunca.
E o tempo passou.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Rapidinha.

Pra que andar pra não chegar?
Se cansar à toa quando o destino não está mais lá.
Seu objetivo correu, se mandou.
O que você queria não te quer mais,
então pare.
Fique parada.
Assim você não se cansa e vai ser mais fácil de outro te alcançar.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Poema.

Não quero mais te entender
tentar saber o que sente
decifrar o enigma dos seus olhos
e o labirinto em sua mente.

Já tanto me perdi
confusa nesses caminhos
fiquei louca me guiando
e acabamos sozinhos.

Agora fico cansada
só de pensar em voltar
a caminhar nessa estrada
e de novo me machucar.

Quero que você me queira
tão leve quanto eu te quero
pode ser que nunca seja
mesmo assim eu espero...

Pois cansei de te entender
e cansei de tentar
mas não cansei de você
nem cansei de te beijar.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Quinta-Feira, 11 de Setembro de 2008

Bom, aqui estou eu escrevendo coisas novas de novo.
Não que em todo esse tempo eu tenha nada escrito, mas tive esse pequeno problema que me manteve longe do ambiente de publicação virtual.
O maldito weblog, o sítio onde eu publicava meus textos desde 2004 resolveu sair do ar.
E daí, depois de criar este novo, resolvi fazer uma seleção do que eu mais gostava no outro e rechear esse aqui. O problema é que isso dava trabalho... e depois que comecei me deu uma preguiça tremenda! E o tempo foi passando...
Pois bem, terminei enfim.
E agora um blog revive.

Chan.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Toda vez que bebo sem pensar nos maus tratos estomacais,
o café que esquenta um pouco meu corpo gelado com a climatização do ambiente de trabalho,
faço uma careta sem graça que além de enfear um pouco meu rosto sem expressões não assusta nem a mais impressionável das criaturas.
O café expresso da máquina cara que temos por aqui é forte e amargo ao extremo,
nem com tantas gotas de adoçante,
esse elixir artificial que causa um doce forçado,
uma coisa irritante de se tragar,
nem com essa abominável doçura ele deixa de contorcer minha feição.
Na manhã avançada meu estômago começa a reclamar vazio,
coitado,
e mando uma dose dupla do expresso para maltratá-lo ainda mais,
só para ficar com o gosto amargo misturado com o doce intragável na boca.
É estranho o dia-a-dia,
é uma sucessão de auto flagelo,
um sacrifício atrás do outro.
É assim que passo meus dias.
Lembrando do que fiz de estúpido e inteligente ao longo da manhã.
Hoje tentei ser esperta,
falando de modelo de gestão e de estado,
juntando a suposta produção acadêmica com o que me empurram aqui no trabalho goela,
corpo todo abaixo,
osmoticamente,
repetindo como aquele curso de inglês,
mas no fim das contas não passo de uma piada.
Uma máquina movida a café e sentimentalismo.
De vez em quando um pouco palhaça.
De vez em quando escrevendo alguma coisa.
Mas sempre acabando com minha saúde com a mistura bombástica de café expresso com ciclamato de sódio.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

A semana está se arrastando com a lentidão de um pensamento que se repete. Uma, duas, dez vezes ao dia a mesma idéia martelando, como um elástico esticado, no limite que pode agüentar. Parece que é um processo lento de passagem por cada neurônio, me fazendo reviver toda vez, numa lenta tortura. Mas na verdade são todos ao mesmo tempo, todos teimosos repetindo a frase arranhada do disco, espetando a dor mil vezes como o tapete de pregos do faquir.
E sim, mais uma vez a idéia é a dor. Uma idéia batida e cansada, que já devia ter dado o que tinha que dar. Já tinha que ter doído o que tinha que doer. Mas insiste ainda em voltar tantas vezes, incomodar o dia inteiro, e enfiar uma maldita escuridão na minha sempre clara visão de futuro.
Pois tenho o dom da clarividência.
Ultimamente, entretanto, as semanas se arrastam, e algumas noites passam correndo demais, tudo muito lento ou muito rápido para me dar as certezas que preciso. Por mais claro que tenta parecer, nunca tem a clareza suficiente. Por mais verdadeiro que tente ser, nunca passa a confiança suficiente. Por mais belo seja o quadro que pinta, nunca vai recuperar o frescor da obra-prima destruída.
Esses pensamentos ficam se repetindo, e isso nunca ajudou a resolver nada. Só faz retardar as semanas e a perspectiva de felicidade.

terça-feira, 27 de maio de 2008

Ando escrevendo coisas muito tristes.
Espero um dia voltar a escrever sobre a lua cheia, sobre pôr-do-sol e tardes de alegria.
Mas quando ela se abate, uma sombra sem fim, um eterno crepúsculo, penumbra, névoa, é difícil achar o caminho da saída.
Devia simplesmente parar de escrever quando me sentisse assim, mas não aprendo a lição.
Daí a caneta fica ali, tentando se desviar dos pingos da goteira do temporal e se fazer entender.
A mão fica ali, tentando se manter firme diante do terremoto.
A cabeça fica ali, tentando se manter longe dos piores momentos que escreve, filmes de Shyalaman.
Quero parar com os cataclismas e voltar a escrever sobre as belezas comuns do dia-a-dia.
E não falo de natureza...

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Chore na chuva!
Sente-se debaixo de um temporal...
Primeiro sentirá sua dor extremar-se, se espalhar em cada canto de seu corpo em dores agudas, sufocando seu peito até quase matar.
Mas em pouco tempo, menos do que imagina, menos do que se espera, as lágrimas vão virar chuva e deixar de existir.
Sentirá o rosto molhado, mas todo o corpo estará, a fúria da natureza superando sua própria.
Logo verá que a água em sua face é doce, e será fácil esquecer o amargo salgado da desventura.
Em pouco tempo parará de chorar, e será chuva.
Pois que a maré resolveu virar!
Com muita sorte enormes nuvens de chuva se formaram sobre minha cabeça.
Meus poros de contraíram com o frio, os pelos eriçaram-se. Tudo acinzentou, adquiriu um aspecto pálido, tons sóbrios.
Sim, a cena agora está colorida do jeito que eu gosto, com a rapidez com que chega uma frente fria.
Chorar na chuva não é choro. É só chuva.
E tudo pode começar a melhorar...

sexta-feira, 11 de abril de 2008

O café. A cafeína. Posso dizer que nessa altura já estou transbordando. Meus olhos estão vidrados, saltados arroxeados, nossa (!), como estão horríveis. Minhas mãos e meus pés estão inquietos, meu estômago dói, mas ainda assim minha cabeça continua zunindo. A sensação é de que meu crânio oco agora abriga uma fumaça densa, poluída, e o pior, extremamente pesada. Ao mesmo tempo, vez ou outra perco meus movimentos. Continuo me movendo, mas meu controle está desaparecido, é como estar debaixo d'água, afastando moléculas, removendo obstáculos físicos para avançar. Não o encontro, o controle, quem move é meu inconsciente, essa parte primitiva de mim que insiste em se comportar como sempre. Estou entorpecida. Descontrolada, mas ao mesmo tempo estou mole e cabisbaixa. Na verdade, cabisbaixa sim, mas não no sentido figurado da tristeza, é literal, meu pescoço está rebelde e não quer mais segurar o que está em cima dele. Tão pesada! São os sintomas de uma droga, mas estou sóbria. O mundo é o mesmo, mas para mim passa em câmera lenta, anuviado, granulado como um filme em película, e ao mesmo tempo aguçado como o novo cinema digital. Em tantos momentos estou num daqueles filmes de Lynch, entretanto, lamentavelmente permaneço acordada. Ando, dirijo, estudo, trabalho, como posso continuar vivendo com todo esse sono? Vou ali tomar mais um expresso.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Esse foi do dia da mentira. (Pensando muito seriamente em mudar de blog...)

Será que devemos sorrir porque as coisas vão bem?
Tudo corre às chamadas mais de mil maravilhas, no mínimo, e nada pode dar errado.
Isso é suficiente para enxugar o pranto e colocar dentes de fora?
Merece o mundo exterior ser agraciado com o som do nosso riso, e isso sem ironia, sem sarcasmo, sem zombateria?
Temos o direito de nos deixar sentir bem e iluminar os olhos com a pureza do contentamento?
Sabemos que houveram aqueles tempos turbulentos, furacões, que bagunçavam os pensamentos sem deixar espaço para ter consciência de que tinha alguma coisa além da tristeza para sentir.
Não é hora agora de inventar algum infortunio?
Forçar-nos para baixo e martelar pregos entre nossos pés e o chão?
Agora que as coisas vão bem, devemos sorrir?
Será que devemos ficar felizes só por nos sentirmos felizes?Penso...

quarta-feira, 26 de março de 2008

Um dia me vi absolutamente acabada num canto, totalmente posta de lado por mim e por todo meu jeito de ser, tudo que deixei que acontecesse, que permiti que me atingisse.
Observei um corpo inerte que sentia, e ao mesmo tempo que quis me curar quis adoecer, quis deixar de existir para sempre pra que a dor me abandonasse também. Quis ser deixada novamente, dessa vez pela agonia que me consumia.
Estava vendo como tinha errado, que quando se abre a porta pensando em ser feliz, fica também aberta a entrada para o infortúnio, para a crueldade, para o sofrimento sem fim. Errei! Essa porta deve ficar fechada, trancada, lacrada, sim!! Não era pra ser escancarada como foi pois o mundo fora dela não é confiável.
Eu vi a chuva de solidão que me molhava, e sabia que ela só incomoda quando a gente se desacostuma a ser só. E não devemos nos desacostumar nunca! Enquanto ficamos em nosso isolamento, longe de qualquer um que nos possa ferir (ou gostar), magoar (ou querer bem), ofender (ou fazer feliz), nos cobrimos nas asas do melhor da vida: a proteção. Não devemos nos expor!
Errei. Tudo bem, a gente erra.
O pior, (burra!) é que não aprendi.
O pior é que tem coisa que me cega.
O pior é que me iludo de novo e de novo.
Ouço avisos? Ouço!
Dou ouvidos? Não! É muita estupidez.
Chances de essa porta entreaberta deixar entrar os criminosos? Todas.
Aqueles que ferem (e gostam), magoam (e querem bem), ofendem (e fazem feliz).
E se for, bem feito!

quarta-feira, 19 de março de 2008

Todos os dias na hora do almoço no restaurante do chinêsinho (vide multiply) passa uns documentários da BBC que a Record transmite. O tema é basicamente o instinto humano em suas várias facetas. Ontem eu fui almoçar meio tarde e perdi o programa, mas Segunda o tema foi o ciúme masculino. Esses programas são realmente muito interessantes, pude saber, por exemplo, que pesquisas demonstram que 1 em cada 10 pessoas não sabem que não são criadas por seu pai biológico, ou seja, que são filho adulterinos. Outra informação interessante foi sobre os testículos dos primatas. Os testículos do ser humano estão num tamanho médio entre os do gorila e do chimpanzé. Os testículos do gorila são menores pois suas fêmeas são extremamente fiéis, se dedicam apenas a um parceiro em toda a vida. Já os dos chimpanzés são maiores pois suas fêmeas são volúveis e acasalam com qualquer macho que aparecer. Desta forma, eles precisam produzir mais espermatozóides afim de fecundar o maior número de fêmeas possível. Os testículos do homem estão no nível intermediário entre os dois. Isso quer dizer que as fêmeas humanas são fiéis, mas nem tanto. Que coisa, não?! Foi bem interessante também a história de um homem que namorava com uma moça há 7 anos, e eram muito felizes. Até que um dia, ao passar um fim de semana na casa de pesca dele, um fato tirou a paz do casal. A mulher dormia perto da lareira quando seu celular recebeu uma mensagem de texto. Depois mais uma. O namorado, curioso, resolveu dar uma espiadinha e saber quem queria tanto falar com sua amada. Qual não foi a surpresa ao ver duas mensagens "insinuativas e com teor sexual" enviadas pelo vizinho da casa ao lado, que estava viajando. O homem enfurecido resolveu dar o troco e imediatamente pegou uma serra elétrica e um machado e se dirigiu à casa do vizinho onde estava estacionado seu precioso carro, um Jaguar que o cara "mais parecia não dirigir, apenas polir". O homem destruiu o carro caríssimo com a serra elétrica e o machado por causa de seu ciúme. Pena que era só isso que eles queriam abordar e não contaram o fim da história, tipo se ele cortou também a namorada com a serra ou coisa assim. Ficou explicado também que o ciúme masculino é despertado justamente por causa dos hormônios sexuais de um testículo mediano, é o instinto de perpetuação da espécie. Só que ontem também ouvi uma história real, contada por alguém próximo sobre ciúme. Um colega de um colega meu revelou que após a descoberta de sua traição pela namorada, com quem vivia há 3 anos, ela atirou álcool no corpo dele e riscou um fósforo. Depois disso prestou socorro e ficou com ele no hospital enquanto esteve internado com queimaduras graves. Após a alta ela desapareceu no mundo. Moral da história, ela não queria matar, queria mesmo era deixá-lo queimado. Não tiro a razão dela... Trair a namorada e ser descoberto? Que queimação! Imagine então se as mulheres tivessem o tal instinto do ciúme masculino...

quarta-feira, 12 de março de 2008

Já que o weblog resolveu prolongar alguns dias minha fossa, publico agora os três que estão acumulados de vez!

De 10/03,

É nessas horas que devo escrever. Escrever é preciso para não perder o jeito, para não perder a mão, a forma, o estilo. Tenho que escrever pois não posso perder nada, não posso deixar de lado o meu ser, minha essência, o que tenho escrito em mim. Idéias confusas borbulham como borboletas, voam como peixinhos, e preciso gravar isso no papel, pois só tenho boas idéias. Não posso esquecer do que eu tenho de bom. É tanta coisa que só posso demonstrar de uma vez se escrever, pois tudo se pode quando se escreve. Até mesmo mostrar tudo que sou, o que não sou, e o que talvez eu seja e não seja. Letras, letras!!! Desvendam e criam mistérios. Mas acima de tudo, são verdades. Preciso escrever para não perder a pena, para continuar.

De 10/03 mais tarde,

Lá vou eu de novo me agarrar a sonhos esparsos que não viram nunca realidade. São esses sonhos que me ajudam a viver, como todos os sonhos são razões de viver de todas as pessoas. Crio na mente essas coisas esquisitas, belas, que não acontecerão jamais, e a fantasia toma conta desse meu ser, e aos poucos realidades indesejadas vão ficando para trás. São esses meus estranhos sonhos que se tornam histórias interessantes, histórias que poderiam e deveriam e talvez sejam escritas, e assim se tornam realidade na ficção. Deve ser este o meu dever em sonhar tão bem, tornar meu sonho uma ficção inventada, para que talvez alguém ache realidade nele. Daí quando menos se espera, a vida é o melhor escritor e o destino faz seu papel. O fato acontece melhor que o sonho, e pega totalmente de surpresa. E não adianta eu me iludir e achar que estou curada de padecer com os males da perfeição da realidade, estou viva, acontecerá. Estou aqui. Talvez aqui esperando o dia em que meus sonhos se realizem e que eu seja essa autora perfeita de minha vida, e prove a mim mesma que estou dessa vez certa, e que nada é melhor do que a realidade que crio para mim em sonhos. Mas eu gosto de agradáveis surpresas. Quem sabe meu dever em sonhar tão bem seja dar possibilidade para a vida ser melhor. O desafio está lançado.

De hoje,

Ele tem o dom de criar verdades.
São coisas que ele cria em sua cabeça, e tão forte de pensamento ele, que vira tudo realidade.
Não importa se manipula o passado, não importa se inventa o futuro, o que não era passa a ser, e a fortaleza de sua vontade protege o que ele não quer que seja.
Ele é voluntarioso, e é bom ser voluntarioso se consegue tudo que se quer.
Ele inventa até um querer pra que o que é seja o que ele quer.
Ele é o mágico da felicidade!
Criador de suas verdades!
Assim é fácil não ficar triste...
A novidade é que ela é absolutamente igual.

segunda-feira, 3 de março de 2008

Ela não corria porque tinha medo dos radares. E naquele dia passou por muitos radares, dentro da velocidade permitida. A última coisa que precisava naquele momento eram gastos com leis. As únicas leis que queria infringir eram leis trato social, de comportamento, de costumes, do que é considerado certo. Mas não as leis de trânsito. Dirigir em alta velocidade pode ser perigoso, pode causar um acidente fatal. Na verdade ela não estava ligando nada pra isso recentemente. O ruim é ficar viva e sem dinheiro.

domingo, 2 de março de 2008

Não era culpa dela, ela estava acostumada a ganhar. Tudo dava certo, as coisas conspiravam em seu favor. A vida tinha dado a ela sorte e não juízo, e por isso mesmo ela achava que era fácil. E um dia ela foi descobrir que a vida não era fácil.Dirigia devagar pois tinha medo dos radares. Não corria nunca, e a prudência se manifestava nessa forma zelosa. Naqueles dias em que a vida passou a ser difícil correu com seu carro. Embriagou-se e correu. Foi cantando alto suas músicas favoritas, músicas que falam de amor, felicidade, amor, tristeza. O amor pode acertar sua vida ou o amor pode partir seu coração, dizia a música. Como entendia o idioma, e entendia a linguagem, e entendia o que dizia a letra, sabia do que se tratava, cantou alto. Correr com o carro embriagada, não foi tudo. Ela contrariou tudo que sabia sobre a vida, tudo que sabia sobre as pessoas, tudo que sabia sobre orgulho e sobre como se deve agir. Contrariou tudo e agiu como seu coração mandava, louca. Agiu loucamente pois tinha um coração louco, um coração apaixonado, um coração iludido, todo um ser que se viu em beijos e abraços, em noites de amor, em dias de alegria, em companheirismo, em amizade, em promessas. O coração não vê nada disso, era louco pois sentia apenas, não pensava. E deixou de ter sorte. E quando deixou de ter sorte não devia mais nada à vida. E sem dever não sabia mais viver direito. Não tinha mais débito com o destino e tomou atitudes transloucadas, abandonou o domínio de sua razão e deixou que seu coração lhe guiasse em caminhos errados, em alta velocidade. Não era culpa dela, pois não estava acostumada com nada disso. Então não foi culpa dela ela ter sofrido tanto. E foi com sorte que ela chegou sã e salva.

sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

(De volta. Texto de 22/11/2007)

Beijos.

Vi esse menininho enchendo de beijos o rosto de sua mãe.
Mãe? Garota sem rugas e sem curvas sentada num caminho.
Invejei aquela face que levava de graça mil beijocas de um pequenino tão fofinho.
Quis estar ali como destinatária do inocente carinho infantil, daqueles beijinhos amorosos.
Em troca, levou ele um tabefe e uma repreensão.
Invejei também o tapa.
Quis também ser eu ao invés dele ali recebendo aquela violência gratuita.
Quis naquele momento levar mil tapas no lugar do garotinho para que seus beijos não fossem tão brutalmente negados.
Levaria feliz o tapa e os beijos, a violência e o carinho, contanto que levasse também a certeza de que o pequeno teria sua infância e sua educação preservados.
Ou ao menos queria que aquela outra garota sentada num caminho não descontasse em seu filho as agruras por que passou.
E, sinceramente, prefiro pensar que foi isso que aconteceu.
Prefiro o determinismo à maldade.

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

"O olho é o espelho da alma".
Pobres olhos. Pequenos e frágeis.
Um alvo sensível, um pedacinho de vulnerabilidade.
Olhos de reflexo rápido, tementes ao perigo, escondidos na menor ameaça.
Quando há um olho a que se examinar, tortura-se o olho, derrama a gota, arde o colírio, chora o rosto.
Pisca o olho, protege-se.
Mas a pupila que se dilata, a acanhada menina agora atiçada, potencializa a exposição, deixa o caminho livre para os raios de luz, a luz que deve clarear acaba cegando.
A luz mostra o mundo aos olhos, e a forma como os olhos vêem refletem a alma.
Muita luz, pupilas dilatadas, coração aberto, mundo embaçado.
E daí viramos pilha de nervos, uma porta escancarada, não olhamos mais onde pisar, corremos o eterno risco de tropeçar, de cair, de se arrebentar, de sofrer.
Lá está o pequeno buraco dos nossos olhos, aquele que deve regular a entrada de luz, totalmente desleixado, embaralhando as idéias, tirando a razão, tirando os porquês, tirando o resto de trevas e clareando tudo sem limites, a ponto de tirar o fôlego, o sossego, a cautela, as barreiras, tudo. Tudo mesmo.
Mas espera!
Estou falando de colírio ou de amor?

sábado, 3 de novembro de 2007

Se tive algum herói na infância, esse herói foi meu tio. É essa a imagem masculina que eu tive durante meu crescimento. Sei que herdei muita coisa errada dele, a opção política conservadora, a passividade frente ao machismo, as picuinhas, a ironia, o sarcasmo. Muito que o tempo e o amadurecimento melhoraram, tanto em mim quanto nele. Mas também foi meu tio que me trouxe alguns traços da personalidade inabaláveis. Meu time do coração, a forma de humor, as picuinhas, a ironia, o sarcasmo. Meu querido tio agora está longe, sinto saudade. Mas têm coisas sobre meu tio que não esqueço nunca.
Uma das lembranças mais queridas de minha infância com meu tio é uma das fontes de minha admiração.
Meu tio tinha um Lada azul, quatro portas, equipado com um sonzinho. Vez ou outra meu tio me sentava no carro estacionado na garagem e ligava o som. Em seguida ele soltava a frase que me marcou e me marca até hoje "conheço todas as músicas do mundo!". Para provar, a gente ficava lá ouvindo a Transamérica e a Jovem Pam, e todas as músicas que tocavam, ele sabia ao menos um trechinho. Todas! Isso me emocionava, uma emoção infantil, admiração pura. Me orgulhava pois tinha um tio que conhecia todas as músicas do mundo.
Quando paro pra pensar, concluo que deve ser por isso que hoje eu conheço todas as músicas do mundo. O orgulho, hoje, é pessoal, quando eu ligo o rádio e sou capaz de cantar um trechinho de cada canção. Se ainda tivesse aquela inocência, essa verdade seria absoluta. Não tenho, então sei que não conheço todas, e a teoria vai de água abaixo só de colocar numa rádio tipo Itapoan Fm. Mas conheço uma porção de músicas.
Minha especialidade é associar músicas a eventos. Pode me dar qualquer situação que acho uma música que encaixe direitinho (parafraseando o pai de Toula em Casamento Grego: "give me a word, any word, and I'll show you the roots of that word are greek"). Pra todos os tipos de romance, pra todos os tipos de dor-de-cotovelo, pra todo tipo de crise, pra todo tipo de sonho, pra todo tipo de anseio, pode dizer, eu canto sua vida! Essa é uma das minhas habilidades. Sim, minhas habilidades são quase todas inúteis feito essa, mas são divertidas. Quem sabe um dia serei tão divertida quanto meu tio? Ao menos mais musical eu sou, afinal, entraram aqui outros gens...

quarta-feira, 24 de outubro de 2007


"People just have an affaire, or even... entire relationships...
They break up and they forget!
They move on like they would have changed a brand of Cereals!
I feel I was never able to forget anyone I've been with.
Because each person have...you know, specific qualities. You can never replace anyone.What is lost is lost.
Each relationship, when it ends, really damages me.
I haven't fully recovered.
That's why I'm very careful with getting involved, because...
It hurts too much!

(...)

I see in them little details, so specific to each other, that move me, and that I miss, and...will always miss.
You can never replace anyone, because everyone is made of such beautiful specific details (...)"

Celine, o personagem de Julie Delpy em "Antes do por-do-sol" diz que nunca consegue superar totalmente os antigos amores, sempre há algo específico de cada relacionamento que marca tanto que é impossível esquecer. Ela não é a única, embora muitos lutem com toda força ignorar seu próprio passado e a influência dele no presente. E não são só os tais "detalhes" do outro que ficam, é toda uma série de identificações que a convivência traz, reflexos na personalidade que não se tratam de subtração, mas soma, e uma soma inevitável, e que costuma permanecer. A não ser, é claro, que não haja convivência suficiente... mas sempre ficam, então, os danados dos detalhes.
E enquanto o tempo vai passando, lá vamos nós acumulando relacionamentos. Inevitavelmente acumulamos coisas mais sérias, e aí que os problemas aparecem, problemas ético-sentimentais. Pensemos num lugar que tenha se ido muito antes com a pessoa, ou na lingerie que foi presente do ex... são os extremos fáceis de resolver:
Os lugares são inevitáveis, e provavelmente você já freqüentava antes, se estivermos falando aqui da mesma cidade, e excluindo viagens, etc.
O segundo caso é lógico! Lingerie descartada, não vai servir mais!
Mas existem situações mais delicadas...
Que fazer com as músicas? Que fazer quando ouve uma música que marcou com a outra pessoa, e sem querer associa com a nova? E se for de ciclicamente pensar nas suas músicas favoritas com o favorito da vez? É errado? Tem como evitar? É obrigatório ter músicas novas? E se o gosto musical do atual for igual o do ex? E se ele te dedicar as mesmas músicas?
E tantas outras questões... todas de difíceis ou inexistentes respostas.
Qual é a sabedoria então? Daqueles bravos dispostos a abandonar as lembranças? Enganados nesse erro?
Ou dos e das "Celines" que guardam aqueles detalhes sem negá-los?
Antes do amanhecer e Antes do por-do-sol são filmes apaixonantes, com personagens inesquecíveis, maravilhosos de se ver.
Mas na verdade essa foi a única parte que eu realmente me identifiquei com Celine, e que nunca esqueci. E aí vem:
"That's why I'm very careful with getting involved, because...
It hurts too much!"
É triste quando um relacionamento não dá certo. Principalmente porque isso necessariamente significa novos relacionamentos, todos assombrados pelos fantasmas dos anteriores. Pelos detalhes... E pelo ciúme...
Luas cheias vêm e vão e são sempre românticas.

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Eu sou uma piada.
E por isso rio de mim.
Me acho engraçada de me ver fazendo graça com coisas que não acho engraçadas em mim.
Mas é o jeito de ter alguma graça.
Rio das coisas que falo, que não são coisas que penso.
Rio do jeito que tento ser, pelo esforço que faço.
Rio por tentar agradar: logo eu!
Ainda bem que dessas piadas só rio eu.
Só eu sei.
Piadas internas minhas comigo mesmo.
Tem coisas que só eu rio, pois só eu sei a graça.
Só eu sei o que passo, e como ajo, e é engraçado, é hilário.
O jeito é rir, né.
Rir de gente besta, boba, palhaços de circo, malabaristas, que andam na corda bamba.
E pra ser o clichê que sempre sou, falo de lua.
A sorridente lua hoje curtiu um longo caminho com minha cara.
Sempre lá sorrindo, como o gato de Alice.
Ela deve saber...

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Enfim, aí vai na íntegra. De 01 de Outubro de 2007, Segunda-Feira.


Na hora em que a mente cala as palavras
Que se pensa demais em sentir demais
A sábia cabeça avisa a boca que não fale demais.
Proteção. Pois já sofreu demais.

Porém a mente não sabe frear as emoções.
Não existe controle pra uma paixão que chega.
Que pode a cabeça fazer quando está atada em pensamentos românticos, idiotizada em um alguém, surda e muda, pois não se fala nem ouve.

É essa a cabeça que quer calar as palavras?
Pode calar, pois o ser humano é coração mas também é razão, e consegue até se conter, quando o objetivo é se guardar.
Por algum tempo.

Mas que fazer se o silêncio é ridículo e constrangedor...
Graças à mesma mente abestalhada que quer calar palavras perigosas, enche-se a garganta de perigo, sufocando a respiração.
(Mas já fica mesmo sem fôlego)

Que inutilidade!

Coração que manda na mente, anuviado em pensamentos apaixonados. Mente que manda na voz, sufocando frases não ditas.

De que adianta a briga dos sentidos por mostrar ou esconder, se é fácil ler a verdade na rebeldia do olhar...

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

O dia de hoje estressou.
O dia de hoje foi dose.
Foi difícil manter a calma no fim das contas.
O sangue não deixou minhas faces.
O calor não livrou minha nuca.
Minhas mãos não ficaram quietas.
Não consegui parar.
O dia de hoje inundou o que já estava cheio.
Transbordou.
Quando pensei repetida e reiteradamente no dia de hoje, a cabeça deu voltas, rodou, parafusou.
E o dia de hoje se tornou um tormento.
Sorte que é fácil se livrar de tormentos quando se quer.
Eu quero.
Me livrarei.
O dia de hoje é o que se pode chamar de ponto final.

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Ela está vindo. Pra iluminar as mentes. Inspirar as idéias. Tentar definir. Quando ela chegar... tudo vai mudar. Tudo vai ser lindo. Tudo vai ser alegre. Esperamos por ela... pra finalmente ser... pra nos enxergar... e poder andar por aí. Sem ela as noites são escuras... Os pensamentos anuviados... Os caminhos obscuros. Mas quando ela vier... será diferente... será claro... será óbvio. Espero por ela. Mais outro dia.

Quarta, dia 26, será lua cheia.

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Ela acordou assustada no escuro da madrugada.
Tateou freneticamente ao seu lado e desesperou-se ao ver que não tinha ninguém.
Sentou correndo na cama sem fôlego, tentando ver e sem enxergar.
Foi quando acalmou-se subitamente e lembrou que ninguém havia dormido com ela.
Lembrou também que era uma dessas pessoas solitárias.
Não sabia inclusive de onde tinha tirado essa idéia de que poderia haver alguém.
Culpou algum sonho bizarro de que não se lembrava e voltou a dormir profundamente, sozinha, como de costume.
Na tarde do dia anterior andou por uma calçada irregular que formava o caminho de um belo lugar. Andou em silêncio apreciando cada passo que dava, cada movimento que fazia. Estava encantada com sua própria presença num lugar que lhe agradava, e sentia-se mais que bem. Além do mais o sol lhe batia no rosto, esquentando a face, esquentando o corpo, e adorava a sensação do calor. Era apaixonada pelo sol, por isso. Antes que se desse conta, veio de longe um rapaz maltrapilho correndo aos pulos, como uma bailarina, gritando melodiosamente, como uma ópera "Dona! Dona!". Uma hora ouviu, e não pensou que fosse com ela, não era dona de nada. Um homem negro e gordo encostado num poste com cara de feliz da vida alertou "Moça!", e novamente não a convenceu. Não era nada moça. O menino finalmente a alcançou, parecendo alegre, e triunfou "Senhora, deixou cair seu lenço". Era dona afinal, dona do lenço. Olhou para o pedaço de pano que não lhe servia muito e com o qual não se preocupava. Olhou para o menino que esperava sua gratidão. Preferiu achar que esperava dinheiro, e lhe deu uma moeda. O garoto sorriu com surpresa, e ficou ele grato.
Como não lhe agradava conversar, restava-lhe pensar, e foi sobre aquilo que pensou no resto do dia, quando se pegava sem ter o que fazer. Divagou, filosofou, teorizou. Era mesmo uma típica anti-social.
Quando foi para casa à noite, preparou em silêncio seu jantar, não pensou em ninguém. Comeu em silêncio, não pensou em ninguém. E depois encontrou-se em suas leituras, entrou-se em seus escritos, fechou-se em seu mundo. Melhor dizendo, nunca esteve livre dele. Foi dormir bem tarde, sem querer ninguém ao seu lado.
Mistérios da noite...
Quando acordou de manhã já sabia que não haveria ninguém. Lembrava-se bem de que tinha dormido sozinha, e das mãos que procuraram sem achar de madrugada. Não conseguiu esquecer.
Olhou-se no espelho e viu a sombra arrocheada em volta dos olhos. Não piorava mais. Mas naquela manhã não gostou de suas olheiras, achou-se feia. Tinha tudo pra ser um dia de mau-humor.
Saiu então amarga, em poética antítese com a doce brisa da manhã.

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Às vezes não me acho bonita o suficiente.
Minha forma está longe do ideal.
Até eu me irrito com meu humor.
Péssimo costume de chatear os outros.
Pouca humildade e egoísmo.
Nunca penso na coletividade e sempre preguiçosa.
Falo demais e tenho problema em ouvir, fisiológico, inclusive.
Muito séria, e podia ser menos fechada.
Ao mesmo tempo não levo nada a sério.
E ao mesmo tempo levo tudo a sério demais.
Sensível, irritável, magoável, vulnerável.
Mais complicada que o normal do ser humano.
Muito mais.
Tenho certeza de que sou uma pessoa desagradável.
Entretanto...
Curiosamente...
Estou convencida de que sou das pessoas mais interessante que há por aí.
O que há de melhor mesmo.
E olhe que já vi muita coisa.
Tava até querendo saber se tinha alguém igual a mim.
Achava que ia ser difícil.

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Solta em meio ao caos preciso de um referencial pra por as coisas no lugar.
Se me perco em meio à bagunça dos pensamentos e lembranças, devo me achar em relação aos planos.
Largada em meio à confusão das tarefas, dos afazeres, quero encontrar um meio de organizar.
Em meio à minha vida tenho que ver o certo.
Naufragada... esperando o que?

Holding Out For A Hero
Bonnie Tyler

Where have all good men goneAnd where are all the gods?
Where's the street-wise Hercules
To fight the rising odds?
Isn't there a white knight upon a fiery steed?
Late at night I toss and turn and dream of what I need

I need a hero
I'm holding out for a hero 'til the end of the night
He's gotta be strong
And he's gotta be fast
And he's gotta be fresh from the fight
I need a hero
I'm holding out for a hero 'til the morning light
He's gotta be sure
And it's gotta be soon
And he's gotta be larger than life

Somewhere after midnight
In my wildest fantasy
Somewhere just beyond my reach
There's someone reaching back for me
Racing on the thunder and rising with the heat
It's gonna take a superman to sweep me off my feet
Up where the mountains meet the heavens above
Out where the lightning splits the sea
I would swear that there's someone somewhere
Watching me
Through the wind and the chill and the rain
And the storm and the flood
I can fell his approach
Like a fire in my blood

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Subo devagar a ladeira que contorna a cidade,
sem me importar com as buzinas,
em silêncio, dessa vez.
Observo maravilhada uma esfera incandescente,
um circulo de ouro que inunda uma poça d'água, que vez ou outra é mar.
Sinto a paz do fim do dia e me intimido.
Sigo o rumo.
Acontece que viro uma curva e me deparo com uma esfera pálida,
um círculo gigante de prata governando o céu.
Sou dominada por uma súbita alegria e não paro mais de sorrir.
Lá está ela, linda, imponente, não deve em nada.
Adoro, adoro sempre.
Vejo tudo isso pelo azul envidraçado do dia-a-dia.
Toda essa mágica que me faz fazer poesia.

sábado, 11 de agosto de 2007

Textos Gêmeos de 08.08.2007:

Texto 1.
Pega pensando.
Briga com a cabeça.
Olha pro nada.
Tapa na testa.
- Acorda!
Suspira sem porque.
Raiva de pulmão.
Não ouve ninguém.
Limpa esse ouvido.
Vaga sem rumo.
Não olha por onde anda.
Tropeça, se bate. Desequilíbrio. Sonhos esquisitos.
Ri só.
Coisa de doido.
- Tem cura, Doutor?
Pensa.
E sente saudade.

Texto 2.

Pega um pensamento, joga pela janela, entra no céu, voa nas nuvens, vê as estrelas, para na lua, acorda assustado, anda sem rumo, não entende nada, abre a geladeira, não tem fome, bebe água, joga o resto fora, vai na janela, vê a noite, volta pra cama, não dorme, senta e para.
Parado, pensa em tudo, lembra com cuidado, tenta entender, tenta se apegar, tenta se livrar, tenta esquecer, não consegue, joga pro alto, aceita, imagina de novo, respira fundo, fecha os olhos.
Pega o pensamento, joga pela janela, vai atrás dele, voa nos céus, vai às estrelas, chega no mundo da lua, não acorda nunca, anda, entende, come, bebe, embriaga, encosta na janela, respira fundo, aceita, sonha sem rumo, acordado, lembrando, entendendo, apegando, conseguindo, perdendo o jogo, perdendo o controle, lá no alto, imaginando, suspirando, de olhos fechados, sorrindo enlouquecido e parado.

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Que timidez pode ter a lua?
Belo satélite que se exibe esplendorosamente no céu se aproveitando da luz alheia...
Sorriso maroto que zomba de notívagos perdidos na noite...
Banda brilhante que irradia metade de exuberância completa...
Bola amarela que enche de graça os corações apaixonados e faz graça com os corações partidos...
Por que se acanharia?
Que dá então na lua de se esconder embaraçada nas esparsas nuvens de chuva, num discreto palpite de sua imensidão, mergulhada numa modéstia insana de não-mediocridade?
Seria surto de humildade tardia, depois de dias de voraz conquista aos românticos?
Seria mais uma brincadeira, mais uma tentativa de humilhar os já encantados que agora não podem mais viver sem sua imagem?
Creio que a lua cheia, já minguando, bela e dourada, que se esconde atrás das nuvens de chuva, nada mais é que um deixar levar, uma dessas coisas que não se precisa explicar, nem entender.
É como o calmo vai-e-vem das ondas de um início de romance.

A Lua MPB4

A lua Quando ela roda É nova!
Crescente ou meia A lua
É cheia!
E quando ela roda
Minguante e meia
Depois é lua novamente...
Quando ela roda
É nova!
Crescente ou meia A lua
É cheia!
E quando ela roda
Minguante e meia
Depois é lua-nova...
Mente quem diz Que é lua velha...
Mente quem diz!

domingo, 15 de julho de 2007

Ganhei uma flor ao contrario.
Não era uma flor de namoro, uma flor que conquista.
Era uma flor qualquer, sem destino pra mim, sem sentido nenhum.
Essa flor era nuvem de chuva cobrindo a lua cheia.
Era mal cheiro estragando o perfume.
A flor tinha preto e branco manchando o colorido.
Nessa flor tinha sombra estragando a luz e luz estragando a penumbra.
Era o inverso do romance.
Uma flor que vinha na contra mão das flores, e não vinha pra me agradar, vinha pra nada.
Não tinha o aroma clássico das flores do amor clássico.
Não era sequer uma flor de amor.
Mas sua aparência era impecável, não tinha inseto que a estragasse.
Podia ter sido uma flor de amor mas não foi.
Eu ganhei essa flor ao contrario que poderia ser algo especial, mas não era coisa nenhuma. Ganhei uma flor que não era pra mim, e por isso deixou de ser flor e ficou só a vontade.

"Whatever happens, I'll leave it all to chance Another heartache, another failed romance
On and on, does anybody know what we are living for ?"

terça-feira, 3 de julho de 2007

Bateu asas e voou.
Mesmo sendo assim, gente.
Era preciso perder o chão, sair por aí com nada sob os pés.
Naquele momento não teve vontade de ter apoio nem porto seguro.
Queria insanamente se libertar de precisar.
Soltava as amarras com a mesma intensidade que o ar dos pulmões.
Mesmo sendo assim, gente, que precisa de ar e de amarras, voou.
Teve vertigem, sentiu calafrio, mas queria mais e mais.
Sentiu a liberdade daquela independência, de estar solta e desgarrada de satisfações e explicações.
Era gente e precisa de gente, mas por um momento teve que não precisar de ninguém, e ser só de si mesma.
E viveu essa vida.
Bateu asas e voou, como uma borboleta.
E como uma borboleta não durou de um pôr-do-sol ao outro.
E voltou para o chão.
Mas estava revigorada e pronta para de novo pertencer.
E precisar de alguém.

sexta-feira, 29 de junho de 2007

Ontem pensei num sonho que sonhei mas que não lembro. Hoje vi uma lua brilhante iluminar o mar. Amanhã, quem sabe?

terça-feira, 19 de junho de 2007

(Continuando o intercâmbio blog-orkut, e aproveitando pra fazer uma homenagem atrasada pra essa mocinha que fez anos dia 16...)

Hoje eu sei que era uma menina quando foi mãe. Uma menina da minha idade. E hoje eu vejo que fui criada por uma menina, uma pessoa que foi crescendo comigo, educando outra menina, e que se saiu muito bem, pelo menos nessa tarefa. Não podemos condenar essa menina pelos erros, pelas escolhas equivocadas, pelas más atitudes. Nem mesmo hoje, devemos julgá-la, pois mesmo depois de crescer, envelhecer, viver mais anos, mesmo assim, não deixou de ser uma menina. Mesmo tendo hoje o dobro de minha idade, de minha experiência, mesmo sendo mãe há 21 anos, não deixou de ser uma garota, uma senhora no mínimo sapeca. Tinha 21 quando foi mãe, uma menina da minha idade. "E hoje eu já sou mais séria do que ela". Quem acha que eu sou moderninha não conhece minha mãe. Quem pensa que minha mente é aberta não conhece minha mãe. Quem diz que eu sou meio biruta definitivamente não conhece minha mãe. Ou talvez conheça, e ache que está tudo explicado. : ) Ela me criou, ela me educou, ela me deu amor. Ela me deu juízo, ela me deu dois pais (e foi o terceiro). Ela me deu leite Ninho que me fez engordar, e leite de Chernobyl que me fez crescer demais (juntamente com o frango com hormônio). Ela me deu umburoska na praia, me ensinou a jogar buraco e gamão. Me fez gostar de Michael Jackson, da lua, de horóscopo, de ler (incansáveis ordens nesse sentido) e de pensar. Ela me deu meu nome esquisito, ela tem o mesmo signo que eu. Ela já fez "algo de diferente no mundo", que sou eu, mas que também é parecido com ela. Que é filha. Pois a menina é minha mãe. Essa mãe que é diferente que nem o nome que deu, que nem a filha que teve. Essa mãe com um parafuso a menos, mas é a que eu tenho, fazer o que? Curtir mais uma fase com essa mãe, mais um ciclo lunar. Ao lado dessa mãe, cuidando dela, dessa vez. Pois eu já sou um tanto mulher, deixando de ser menina. Mas ela não. Essa aí não sai do um e sessenta e três. ; ) Só passam os anos... 21 de mãe e mais tantos de vida.
Bj mãe.

quinta-feira, 14 de junho de 2007

Essa é minha antiga descrição do Orkut, mas gosto tanto dela (e pra atualizar sem ter o que escrever) que resolvi publicar aqui.

("Fingindo ser o que eu já sou"...)
Meu tênue humor pode se perder de um segundo pro outro... sim...
Minhas frágeis opiniões, tão ferrenhamente defendidas, e muitas vezes tão contraditórias... sim... Minha carência e minha aversão ao contato... sim...
Minha falta de capacidade de achar que posso falar coisas certas e minha tagarelice... sim... Minha anti-socialidade e meu medo de rejeição... sim...
Ácida, sarcástica, irônica... sim...
Preocupada com os amigos, e até com quem não sabe ou merece... sim...
Controversa... sim...
Sempre A-U-T-Ê-N-T-I-C-A!
Sempre

"I'm a million differente people from one day to the next I can't change my mold, no, no, no"

quinta-feira, 3 de julho de 2008

terça-feira, 5 de junho de 2007

Há quem procure efemeridades.
Um perfume suave que agrada sem deixar marcas.
Tem gente que se diverte e se encanta no mundo das relações passageiras e sem causa.
Divertem e encantam as paixonites de momento, que satisfazem a libido e o ego nos breves momentos em que tomam lugar.
Tem quem se cubra da inocente promiscuidade.

Há quem procure paixão.
O manjado fogo que queima a palha.
Tem gente que se nutre da corrosão da alma promovida pelo desejo.
Nutridos e corroídos pela máxima da química que é a genuína atração por quem não se decide desejar.
Tem quem se inunde com essa voracidade.

Há quem procure amor.
Uma rocha firme em que se apoiar.
Tem gente que necessita da certeza e da completa entrega, de um sentimento dando causa.
Certos e completos os que amam, aquecidos os corações com a presença do amor.
Tem quem se iluda com a eternidade.

Há quem não procure nada.
O buraco escuro da solidão.
Tem gente que se fecha em concha e se priva das relações emocionais por medo, proteção ou acomodação.
Quietos e silenciosos os que observam os outros sem participar.
Tem quem se contente com essa "paz".

Eu particularmente não quero nada disso.
Não quero momentos efêmeros sem sentido.
Nem me acabar em paixão doida.
Nem "ter a certeza do amor".
E muito menos ser só.
Eu quero uma novidade.
Quero frio na barriga.
Quero nó na garganta.
Quero troca de olhares.
Quero sorrisos.
Quero alguns beijos, alguns carinhos, algumas mãos dadas, e alguns passeios por aí.
Quero um pouco dessa vida que tem nome.
E o nome disso é ROMANCE.
Quero apenas um romance. Que há de mais nisso?
Tão difícil de acontecer sem complicar pelo mais ou pelo menos...

quarta-feira, 30 de maio de 2007

Ah, a vida...
Tem algo mais misterioso e imprevisível?
A vida é o que está em todos nós, e que não sabemos o porquê.
Por que a vida dá tantas reviravoltas? Por que é tão difícil saber como viver? Será que viver é só viver, ou é também saber viver? Ou será que não saber é o sentido de tudo? Ou será que está tudo escrito? Ou será que temos que escrever? Será?
É mais difícil escrever sobre mim do que sobre qualquer outra coisa, então prefiro acreditar que alguém escreve por mim.
Além do mais não quero a responsabilidade por ter escrito alguma besteira.
As besteiras que eu fiz... não fui eu que escrevi...
Bom pensamento esse, mas como acreditar nele? O sentido da vida é esse? Ficar pensando na vida? Ou o sentido da vida é só ir?
Ir indo, ir andando, ir seguindo, ir adiante, até o fim...
Qual o sentido da vida?

terça-feira, 8 de maio de 2007

Rapaz - R:
Um outro rapaz - UOR:

***
R: Olha só que criatura mais graciosa!
UOR.: Sim, a vejo.
R: Além de culta, é bela e atraente!
UOR.: De fato.
R: Gostaria muito de tê-la!
UOR.: Tome-a.
R: Não seria capaz!
UOR: Por qual razão?
R: Por mais ardente desejo que sinta agora por essa moça, uma vez satisfeita a minha luxúria terminaria por abandoná-la e partiria seu coração!
UOR: Possivelmente. Tome-a mesmo assim.
R: Não farei algo assim com tão doce ser humano.
UOR: Entendo.
R: Parto eu, então, meu coração.
UOR: ...

terça-feira, 24 de abril de 2007

(Esqueci de dizer que o post anterior também continuava)
Na semana em que Carla ficou noiva Cláudio ganhou uma promoção. Era o emprego dos sonhos, diriam alguns. Era o esposo dos sonhos, diziam algumas. E para piorar receberam visitas. Naquela semana Luana teve que suportar longas horas de conversação voltada para o enaltecimento dos feitos dos irmãos, que acabaram por suplantar completamente a alegria que tinha começado a sentir pelo sucesso dos dois. O pior para Luana era ver falsidade e hipocrisia em cada olhar disfarçado pelos incontáveis sorrisos. Não seria lógico que só ela sentisse inveja, e não era. Mas todos na casa tinham que tolerar o choro de emoção das tias e os tapinhas nas costas dos vizinhos. Naquela semana só Luana teve tempo pra ela mesma, e em suas reflexões chegou ao seu limite. Foi quando soltou seu berro de indignação, meio sem saber ao certo com o que se indignar dentre tantas opções cabíveis. Não sabia se devia se indignar com sua irmã perfeita. Ficar indignada com a beleza, com o caráter e com a inteligência da irmã quando ela própria era tão menos. Indignar-se com seus atributos que tinham vindo todos pela metade. Ou talvez devesse se indignar com seu irmão perfeito. Ficar indignada com seu irmão tão bonito, cativante e bem sucedido, quando ela própria não tinha nada de seu. Indignar-se que não havia nada o que se admirar nela própria. Ou talvez fosse se irritar com o fato de ser admirada por eles. Que tinha Carla que ser presente, interessada, afetuosa, cuidadosa, e acima de tudo parecer tão sincera? Não era uma mulher perfeita que era sua irmã. Era mesmo uma irmã perfeita. E que tinha Cláudio que lhe aconselhar, motivar, ensinar, e até arrumar aquele namorado que ela tanto queria? Irmão perfeito também. Seu berro de indignação era por ver que todo seu ódio inflamado esbarrava no não ser.
Não era.
Não tinha.
Não odiava. Não aqueles dois.
Não eram pessoas a quem fosse possível odiar. Eles eram perfeitos.
Ela era tão comum que parecia gente. Tão gente que tinha sentimentos comuns. Odiava e amava, chorava e ria, dormia e acordava, comia, conversava, pensava, tudo dentro do mais rigoroso padrão do ordinário. E nada fora disso. Podia odiar o tudo que existia para odiar nos irmãos ou no que quer que fosse, mas esbarrava no que havia para gostar. E gostava também.
É isso.
Tudo normal, nada de especial.
Com altos e baixos, é verdade. Com mudanças de humor é verdade. Mas não podemos culpar Luana por ser humana.
Por ficar triste por bobagem.
Por berrar.
Por chorar.
Por chocar.
Por ser fútil.
Por ser apenas mais uma.
Não há nada de mais sobre ela.
Luana apenas tem uma natureza controversa. Como toda autêntica geminiana.
(FIM)

quinta-feira, 19 de abril de 2007

(Continuação dos posts anteriores, um pouco mais longa, admito)
Cláudio tinha mãos macias, dessas que fazem uma mulher olhar de novo para um homem que estava cumprimentando sem reparar. Mas não precisava das mãos para chamar a atenção feminina. Tinha um apelo absoluto entre o público do sexo oposto. O rosto angelical era emoldurado por um cabelo rebelde, que teimava em encobrir os olhos espertos e infantis. Num gesto rápido, lançava-os de novo para o lugar com um meneio de cabeça. Esse tique fazia suspirar de longe as inúmeras mocinhas em que despertava violentas paixões reprimidas. Se só com esse movimento involuntário que lhe acometia repetidas vezes no espaço de um minuto ele encantava-as, o que dizer de seu sorriso fácil, iluminado, sincero, impecável, que acompanhava o olhar profundo nublado pelos fios escorridos? Era arrebatador. Cláudio era um belo rapaz. Desde cedo adquiriu forte constituição, tinha os ombros largos e os pés grandes. Os músculos eram bem definidos, embora não tanto desenvolvidos. Mas não era um homem que se pode chamar de delicado fisicamente, tinha figura bastante expressiva, homem grande, na verdade. Era o irmão do meio, único homem, instituído prematuramente chefe de família. Função que desempenhou com responsabilidade que é rara em moços de sua idade. Fiel companheiro do avô - senhor correto - era, entretanto, rodeado de mulheres, seres pelos quais desenvolveu verdadeira devoção. Dedicado irmão, cuidava de perto da caçula, e aconselhava a primogênita. Tornou-se rapaz capaz de respeitar, compreender e admirar as mulheres como são pouquíssimos outros homens, de qualquer idade. Essa característica rendeu a Cláudio a preferência das avós e das tias, solteiras ou casadas. Das primas e das amigas das primas, mais novas ou mais velhas. Das antigas colegas da mãe, vizinhas, professoras, amigas, colegas, conhecidas, transeuntes. Afinal, era um rapaz adorável! Mas sobretudo porque era lindo de morrer. Sempre foi bom de notas e dedicado no estudo. Conciliava o aprendizado com suas inúmeras outras atividades - nelas incluídos os namoros, que por si só já ocupam tempo suficientemente grande - tranquilamente, auxiliado por inteligência elevada. Formou-se e ocupou rapidamente cargo de direção em empresa importante. Ganhou dinheiro, continuou estudando e produziu conhecimento. Reuniu ao longo da vida inúmeras e verdadeiras amizades, ais quais prezava imensamente. Querido pelos amigos, estava sempre disponível para quem quisesse contar com sua amizade. Requisitado, estava em todas as listas de convidados. Social, recebia os mais próximos em casa. *** E foi justamente essa a questão crucial para Luana. Não, não se trata de sentimento incestuoso que se formou no coração da pequena. Eu explico. Primeiro ela adorou o irmão, como toda legítima representante feminina da família. Depois ela adorou tudo sobre ele, aí inclusos os ditos amigos que lá iam visitá-lo. Mocinha que era, eventualmente interessou-se por um em especial, justamente o mais parecido em beleza, inteligência e personalidade com Cláudio. Compreendeu que poderia se basear no irmão para investir no amigo. E foi reparando no irmão que finalmente viu a verdade mais escancarada. Foi buscando o que seria o par perfeito para Cláudio que chegou à figura de Carla. Só alguém como Carla satisfaria alguém como Cláudio. Esse foi um dia específico em que Luana se tocou. Ela não era como Carla e nunca teria alguém como Cláudio. Subitamente ela reparou que seu irmão era perfeito. E logo em seguida viu que sua irmã era perfeita também. Como poderia ser? Tentou fervorosamente mas não conseguiu achar defeitos nos dois. A verdade é que ela tinha um casal de irmãos igualmente lindos, charmosos, inteligentes, simpáticos, bem-sucedidos, queridos... isso pra falar as qualidades mais genéricas! E o que era ela? Nem isso nem nada. Uma menina comum. E neste dia Luana odiou os dois.

sexta-feira, 13 de abril de 2007

(Continuação do post anterior)
A irmã de Luana se chamava Carla e caminhava para os trinta. Na infância, Luana caiu no maravilhoso e romântico encantamento que se nutre pelas irmãs mais velhas. Carla não era uma irmã mais velha qualquer. Ela era sensacional. Não era só Luana que Carla deslumbrava, mas todos ao redor. Alta e linda de corpo, tinha o rosto perfeito. Belas mãos e seios, coxas fortes, barriga enxuta, quadris sensuais. O cabelo era impecável e brilhante, os olhos eram claros e o sorriso cativante. O nariz era fino, e as orelhas bem colocadas. Carla parecia uma Top Model. Mas não se interessava por moda, embora seu estilo próprio fôsse elegante e influênte. Muito simpática, tinha muitos amigos e muitos admiradores. Era boa e prestativa, delicada e generosa. Pensativa, era discreta. Observadora, era compreensiva. Entretanto, não se espantem, com todas essas qualidades, o que mais se destacava nela não era nem a aparência nem a personalidade. Isso porque Carla acima de tudo era um gênio. Não um gênio matemático ou físico, nem lingüistíco ou literário. Dominava toda e qualquer coisa que lhe era ensinada. Associava uma inteligência viva e desenvolvida a uma memória espetacular. Interessada por todas as áreas, era, todavia, apaixonada pelo clima. Tornou-se doutora em metereologia antes de se casar. Mas embora sua paixão por raios e furacões fosse marcante em boa parte de sua vida, nada era maior do que sua adoração pela irmãzinha caçula. Quando perderam a mãe Carla já era crescida e tomou Luana como sua própria cria. Não como filha, mas como fruto de sua educação. Eram apegadas e se divertiam juntas como se vê por aí nessas irmãs que se amam muito.

***

Como então explicar que Luana um dia viria a repudiar sua irmã? Devo dizer que posso determinar exatamente a causa. Luana idolatrou Carla até o dia em que, subitamente, começou a reparar em seu irmão.
(continua...)

segunda-feira, 9 de abril de 2007

Soltou um berro de indignação. Luana não suportava mais aquilo. Normalmente tinha bom limite de paciência, mas naquele dia esgotou-se facilmente.

***

Luana não era velha, muito moça na verdade. Tinha menos de vinte e era saudável. Possuía certa beleza, cabelos e dentes bem cuidados. Vestia-se com apuro. Tinha olhos escuros espertos, boca bem feita e bem usada. Falava bem. Seu corpo era proporcional e não era baixa. Luana tinha uma beleza muito sincera e não passava despercebida. Não ficava nisso. Estava na escola e era boa aluna. Ia além. Não só era estudiosa mas bastante inteligente e viva de pensamento. Uma moça realmente bem apessoada e simpática, que dificilmente não seria apreciada onde quer que sorrisse ou expusesse suas opiniões. Difícil então minha tarefa de explicar o porquê de Luana se sentir uma menina diminuída e azarada. Sentia-se ofendida e acuada. Devo advertir que a história é alarmante, pode parecer meio triste, e um tanto fútil, mas tentem compreender a pobrezinha. Eis Luana. Luana é a mais nova de três filhos de pais mortos. Sim, Luana ficou órfã de pai e de mãe aos 12 anos por causa de um acidente de carros. Mas não é por isso que ela é frustrada. Desde então Luana e seus irmãos foram morar com os avós, mudando de cidade, de ambiente, de amigos. Luana passou por esse processo, mas não é por isso que ela pena. Luana é caçula e cresceu paparicada por avós, tios e irmãos. Mas não foi isso que estragou Luana. Direi agora o motivo maior de desagrado para esta criaturinha. Não se choquem. O que consome Luana dia após dia é uma crescente, vigorosa e corrosiva inveja nutrida nos laços fraternais. (Continua...)

segunda-feira, 30 de junho de 2008

quarta-feira, 28 de março de 2007

Olha mais um dia passando por mim
e junto com ele todas essas coisas de dia
horas, manhã, tarde e noite. Tempo.
São as horas, vinte e quatro delas ou mais,
que passam, ora breves, ora longas,
horas iguais, enquanto horas,
mas diferentes, enquanto minhas.
Olha minhas horas passando por mim.
É a manhã, do nascer do dia ao meio do dia.
Manhã sofrida, pois acordo.
Manhã vivida, pois acordo.
Acordei em mais uma manhã sofrendo, mas vivendo.
Tão cedo, de manhã.
Olha minha manhã passando por mim.
Cedo na tarde começa a tarde.
Longa tarde que demora a passar.
Da tarde cedo à tarde que tarda a chegar.
Tarde da tarde que não chega pra que a tarde acabe logo.
Duras tardes.
Olha minha tarde passando por mim (muito devagar).
Chega a noite do dia.
A interminável noite que termina o dia.
Tanta noite, mas insuficiente noite.
Noite em que não cabe o resto do meu dia.
Longa noite, mas curto uso da noite.
Olha minha noite passando, passando por mim,
mais uma vez.
Mais de uma vez.
O tempo do dia passa.
O tempo passa - meu tempo.
Todo dia um outro dia.
Toda hora um novo tempo.
É meu e não volta.

terça-feira, 6 de março de 2007

Sempre foi difícil para mim entender os fenômenos da natureza.
Não só coisas magnânimas como terremotos, erupções vulcânicas, ou Tsunamis.
Não no sentido de absorver informações científico-metereológicas, mas no sentido de absorção psicológico-sentimental.
Explico.
É difícil pra mim sentir a chuva na minha cabeça e não imaginar que o mundo inteiro esteja desabando. E assim me divertir com o choque de ir e voltar no espaço do limiar da chuva. Explico.
Numa rua chove. Na outra não.
Eu vou e volto na chuva e não chuva. Mas o melhor mesmo é ver a chuva no mar. Ver a formação do espaço cinzento, e perceber o momento exato da precipitação. De longe é uma neblina disforme. Me emociona saber que é chuva. ...

Meu bisavô Décio levava minha mãe e meu tio para o estádio de futebol, ela sempre me contou, em dias de tempo fechado.
Quando a chuva caía, espantando os demais torcedores, clamava ele - é só uma nuvem, permanecendo com as duas crianças enquanto a água celestial encharcava roupas e corpos. Cheguei a conhecer meu bisavô, mas nunca o escutei dizer a frase.
Ainda assim, repito-a como se fossem minhas próprias roupas e corpo que se molhavam naquelas fontes novas, naquela época.
Isso também porque já me acostumei a ver a tal nuvem me seguir aonde quer que eu vá. Isso porque sei que a nuvem paira sobre minha cabeça. E freqüentemente chove.
E de vez em quando cai um temporal. Sou cabeça de chuva e minha chuva é cabeça. E hoje é dia de temporal.
Quero então me centrar, incorporar o espírito de um velhinho criativo, e clamar a existência de "só uma nuvem", quando o mundo inteiro desaba em minha cabeça. (LOVE)

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007

Sentada de lado, cabelos ao vento.
Mil besteiras passando em seus lábios, coisas banais, coisas emaranhadas, saídas e logo esquecidas.
Nem sabia o que dizia, pois sua mente estava longe.
Pensava na felicidade.
Devaneava em mil planos, mil realizações, mil sonhos, que se materializavam na figura que lhe fitava. Pensava como ia ser feliz se tivesse aquele homem.
Sentado de lado, vento na cara, era mais que uma fantasia.
Ali do seu lado era realidade.
Como sua família ficaria feliz com uma união como essa?!
Um homem direito, sério, bom emprego. Que não daria por ele? Que não daria para ele?
E por isso aquela era a hora mais alegre do seu dia. A hora em que sentava de lado, hora em que maioria das pessoas não presta atenção, nem vê passar, era a hora mais esperada.
Sentia o calafrio na barriga só de ver o ônibus vindo, e quando subia, quando sentava, quando olhava...
Aquele homem do seu lado estava lá pra ser seu homem.
E sabia que seu jeito recatado, seu sorriso tímido, sua intenção pura, haveriam de encantá-lo, de fisgá-lo, de prendê-lo ao seu lado.
Mesmo consciente de que a metade de hora que passavam juntos todo dia era pouco, muito pouco, sentia algo dentro dela que dizia sim.
Um homem simpático, o cobrador, a esperança que alimentava tão ardentemente.
Tantas pessoas que passam por ele sem olhar, sem perceber, sem dar bom dia, mas pra ela tinha virado algo tão especial.

Só não esperava por aquele dia. Um dia normal, a conversa normal, os dois normais. Até que subiu no ônibus uma moça.
Uma moça! Outra moça.
Trocaram sorrisos e se reconheceram. Trocaram palavras e agradaram-se.
Uma outra moça?
Sem saber como aconteceu, ela estava em seu lugar. Era ela de lado, e os cabelos dela ao vento. Não era tão mais bonita. Mais arrumada, sem dúvidas. Salto alto, maquiagem. Cabelo esticado, roupa bem vestida de marca barata. Era toda contraste para a menina de longos cabelos crespos presos num rabo de cavalo. Era toda ressaida, toda brilho, toda luz.
O lugar era imediatamente dela por direito.
De lado, naquele lado.
Aos poucos foi-se percebendo algo mais. Os passageiros também a notavam. Era uma linda morena. Seu sorriso era demais gracioso. Seu riso era demais iluminado. Não que fosse tão mais bonita que a outra, mas era sem dúvida melhor.
Enfurecida, sem perceber, foi sentar-se na frente, emburrada, ouvindo cá e lá uma risadinha mais alta vinda do fundo do veículo. Agüentou como pode a humilhação que achava que sofria. Mas a verdade é que ninguém a viu ser substituída, isso porque ninguém a viu absolutamente. Mergulhada em ódio e indignação, teve de voltar trotando até a catraca e buscar seu troco. Maldito, porque não havia dado antes? Aquela desculpa antes tão bem vinda e provocante foi agora um martírio.
Olhou com raiva para os dois, que sequer notaram sua presença. E neste momento notou uma figura sentada só num assento.
Um pouco mais velha, branca, alta, era realmente imponente. Observava seu rosto encoleirizado com olhos escuros e inteligentes. Seus cabelos logos voavam com o vento, mas ela estava de frente. Não que fosse tão mais bonita que ela, mas era muito diferente de uma forma bela. Pensou que se fosse como ela seus sonhos seriam maiores. Pensou que se fosse assim diferente mereceria algo melhor que um cobrador. Pensou que se fosse outra, lhe viria algo de melhor. E mesmo que se decepcionasse, seria por alguém que valesse a pena. Virou-se e desceu do ônibus melancólica.
Sem dúvida naquela noite choraria copiosamente até dormir.

segunda-feira, 6 de novembro de 2006

"Eu não queria ir assim... Tão triste, triste..."

***

Encosto meu rosto num peito molhado de lágrimas. Minhas próprias lágrimas. Sinto a respiração. O coração pulsando. Me conforta e me acalma... pela última vez. A sensação boa só aumenta a dor aguda que é a dor do Adeus. Sei que devo partir, que devo deixar. Só não sei se sou forte (fraca) para aguentar essa lembrança. Lágrimas que caem e molham, não o peito, mas o lençol. Sozinha. Corações se ganham e se perdem todos os dias.

***

"A corda bamba estourou E despencou para o lado mais forte E se me afogo na dor É para cicatrizar nosso corte..." "Você poderia até tentar Dizer as frases que eu já sei de cor Mas meus olhos de nuvens pesadas, Surdos de tanto silêncio..."

***

Por que caminho vai andando agora? Deixa um rastro molhado com os olhos... Por onde pisa enquanto passa? Sonhos, planos, vidas. Ficando pra trás. Que pedras sob teus pés? Soltas, incertas, inseguras. E vai só. À frente, uma neblina escura. Planta solidão. Rega com lágrimas. Vai só e vai com medo. Medo de não querer colher o que plantou. Deixar lá: apodrecendo.

***

Pensamentos anuviados com a dor. Alegria desbotada, sem cor. Coração machucado, doendo. Alma ferida, sofrendo. Músicas tristes, filmes de amor. Beijos sem gosto, abraços sem calor. Sonho interrompido, vida separada. Espírito sofrido, página virada. E o medo. Medo de alegria, música, filmes, beijos, abraços, sonhos de amor: sem mim.

***

"Não adianta Me ver sorrir Espelho meu Meu riso é seu Eu estou ilhada Hoje não ligo a TV Nem mesmo pra ver o Jô Não vou sair Se ligarem não estou À manhã que vem Nem bom-dia eu vou dar Se chegar alguém A me pedir um favor Eu não sei Tá difícil ser eu Sem reclamar de tudo Passa a nuvem negra Larga o dia E vê se leva o mal Que me arrasou Pra que não faça sofrer Mais ninguém Esse amor Que é raro E é preciso Pra nos levantar Me derrubou Não sabe parar De crescer E doer... "

sexta-feira, 3 de novembro de 2006

As voltas do mundo,
e as voltas da vida.
O mundo girando,
círculos,
ciclos.
E a vida indo e vindo.
O zigue-zague redondo,
tonto,
náuseas.
Suporta tanta ida e vinda,
rodando.
Suporta demais.
Vida.
Toda ela de pequenos nascimentos e pequenas mortes.
Toda ela um ciclo.
Toda ela uma roda.
Toda ela girando.
Enjoando.
E morrendo.
E renascendo.
E morrendo...

Corações se perdem e se ganham todos os dias.

terça-feira, 22 de agosto de 2006

Não há que se confundir Excentricidade com antipatia.
Sou sem dúvida excêntrica.
Exótica em muitas maneiras.
Fico triste de ser considerada antipática.
Tem gente que é, e não liga de ser.
Tem gente que faz questão de ser.
Eu não.
Mas nunca hei de me envergonhar das minhas maneiras.
Muito pelo contrário!
Muito me orgulho de minha personalidade.
Muito me contento com a excentricidade do meu ser.
O que me apavora é a mediocridade.

sexta-feira, 4 de agosto de 2006

Uma menina má como ela é de inspirar arrepios! Emanava maldade infantil, espalhava dicordia e sofrimento nas proporções da infância. Se no futuro Fulaninha jamais daria escova nos cabelos de tanto serem puxados, se Cicraninha já não tinha braço sem roxo para beliscar, culpa dessa menina má. Se a professora alérgica passava as tardes espirrando com o pulmões cheios do pó de giz estrategicamente colocados na porta de sua entrada, se a professora míope esmagou o nariz na parede pelo súbito sumiço de seus óculos, culpa da maldade da menina. Não fazia questão de ser criativa, mas se tornava, as vezes. Gatos da rua tinham rabos xamuscados, brincos na orelha, dentes pintados, linguas apimentadas, pelos depilados. Negros gatos que tiveram o azar de cruzar a rua em que morava uma menina tão má. Se prima Maricotinha ficou sabendo que tinha uma cara no nariz, já sabe quem avisou. Se prima Nicotinha descobriu que a palha de aço parecia com seu cabelo, ja sabe quem alertou. Se Tia Norinha não tinha percebido o quanto tinha estava balofa, ela percebeu. Se Tia Dalinha nunca tinha notado o quanto era vesga, ela notou. Não se incomodava de ser má, e fazia questão de que todos conhecessem e provassem de sua maldade. Foi crescendo. Aos 13 disse pra seu amigo Dudu que ele estava estudando pouco e que assim iria perder de ano. Perdeu de fato, e a achou muito má. Aos 14 disse pra sua amiga Lila que seu namorado não prestava, não gostava dela, e que devia a estar traindo. Estava de fato, e Lila a achou muito má. Aos 15 disse pra o Tico que não gostava nada dele, e que acabaria partindo seu coração. Partiu de fato, e ele a achou muito, mas muito má mesmo! Aos 16 disse pro Zeca que não queria nada com ele, mas ele nem ligou. Uma vez má, sempre má. Se apaixonou. Mesmo assim não deixou de ser maldosa. Gostava tanto dele, e se sentia insegura, transbordava de ciúme sufocante - para os dois. Ele achava que isso era uma maldade. Sabia que devia se livrar de tanto sentimento, mas continuava, e estimulava o gostar dele, que crescia, crescia... Brigavam, brigavam muito! Ele dizia: - Segue sua vida! Ela dizia: - Não posso! Ele achava que isso era uma maldade com ele, mas a apertava com força, com amor, com necessidade. Casaram. E não deixou de ser má depois de casada. Reclamava da toalha molhada, e da roupa espalhada. Reclamava da falta de tempo, e da pouca atenção. Ele achava uma maldade, e ela era realmente má. E sabia disso. Até que um dia se perguntou como poderia continuar sendo tão má com a pessoa que mais amava no mundo. Bom... Talvez ela não se acharia tão má, se soubesse que só por existir fazia de uma pessoa a pessoa mais feliz que existe... E isso não é nada mal.

segunda-feira, 10 de julho de 2006

Era a personificação de um coração partido.
Aparência, então, não podia ser boa.
Olhar para ela era sofrer.
Transbordava em seu semblante tempos de amor e
felicidade
liquidados por muitos outros tempos de dor
e tristeza.
Transbordava dor e tristeza.
Tão cheia que estava da dor e da tristeza que escorriam
pelos olhos.
Não pense que era bom olhar pra ela.
Era terrível.
A angústia contagiava.
A imagem era desagradável.
Era daquelas coisas horrorosas que se tenta desviar os olhos
mas não consegue porque ninguém se priva de um espetáculo bizarro que aparece assim tão fácil pra ser apreciado.
Mas não pense que alguém tinha pena.
Ninguém tinha pena.
Aquilo era o óbvio.
Era se ver, e finalmente a redenção.
Porque um dia ia chegar em que ela também iria se ver,
lembrar do ser infeliz que já foi,
agradecer ser feliz então,
sentir horror por uma imagem corroída (como era agora a dela),
mas se sentir bem por não ser mais ela.
Se sentir bem por se vingar num desconhecido. Sem pena.

sexta-feira, 30 de junho de 2006

Nova.
Muito nova.
Desgaste.
Desgaste demais.
Cansada.
Sempre. Dá-me luz, ó Deus do tempo.
Dá-me tempo, ó Deus da luz.
Quero sair e curtir, e acordar tarde quando não dormir.
Como se volta ao início?
Minha vida não tem slow motion... Nem reverse.
Na verdade nem foward.
Só um imenso e contínuo play.
Quero meu controle remoto!!!!!
Não controlo nada, nem play, nem stop, nem pause.
Ê vida que segue seguindo, sem sede, sem sono, sem dono.
Ê eu, que vivo vivendo, sem rumo, sem plano, sem dono.
Vida sem controle nem remoto.
Vida nova.
Desgastada.
Cansada.
Mais ainda assim, vida.
Voada. Engraçada.
Comédia - em play.
Romance - sem slow motion.
E marasmo, sem foward.
Regrets, no reverse.

quarta-feira, 31 de maio de 2006

Suspiro. (É ele de novo). Cheirinho gostoso de infância, torta
de abacaxi. Avó. Festa.

Pisquei. (É ele de novo). O sol do Rio Vermelho no meu
rosto. As ruas conhecidas do Rio Vermelho, rostos
conhecidos do Rio Vermelho. Não vou tropeçar.

Oba! (É ele de novo). Meus amigos. Queridos amigos.
Conversando, rindo. A velha mesa do bar - e os meus
amigos.

Ai. (É ele de novo). Domingo em família. Ah, vai! Te querem
bem. Sempre te quiseram bem. Está seguro agora. É o lar.

Não acredito. (É ele de novo). Grande locutor! Essa é minha
música. Tanto tempo que não ouço. Que bom ouvir essa
música...

Nossa! (É ele de novo). Que livro! Que filme! Que aula! Que
dia...

Sorriso. (É ele de novo). Não esperava, mas veio. Surpresa.

Olhos fechados. (É ele de novo). Brisa no rosto, calor no
corpo, banho gostoso, cama macia. O dia
foi duro, mas sempre se chega em casa.

(AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAaaaaaaaaaah!) Silêncio. É ele de
novo. É você finalmente em seu lugar: os braços em que
você sempre quis estar, a pele que sempre quis sentir.
Matar a sudade. Ah, esse cheiro! Ah, esses cabelos! Aninhar-se.
Proteger-se.

Lágrimas. É ele de novo em sua plenitude.

Felicidade não existe, mas eles sempre vêm.

sexta-feira, 20 de agosto de 2004

*Nada e nada mais*

Eu sou um nada, disforme, informe, conforme
cheio de espaços vazios, inflado de vácuo.

Um nada pronto pra explodir e despedaçar em
pedaços que não servem pra nada.

Dolorido da dor de ser um nada qualquer
que não agrada ninguém e sabe disso.

Cansado do cansaço que toma os nadas que
já tentaram ser algo para alguém,
mas continuam nada pra ninguém.

Não ser pode responder a questão dos nadas
que de fato não
são nem vão ser.

Sou pior que os que são um vazio
nem sequer sou:

Eu nada vazio.

E só.

segunda-feira, 23 de agosto de 2004

Havia uma floresta... ninguém morava lá.
Depois alguém foi morar lá, e esse alguém fez casas.
Até que um dia, acharam necessessário criar ruas, e muitos anos depois o governo resolveu asfaltar.
Asfaltaram muitas vezes, e o asfalto era tão bom que durava um mês inteiro com carros passando até que os buracos aparecessem... UM MÊS INTEIRO!
...
A história das gotinhas
As gotinhas ficavam nos oceanos, mares, rios, lagos e lagoas, muito felizes, molhadas.
Aí veio o sol e esquentou as gotinhas, fazendo elas ficarem leves e alegres, voando para o céu.
Como o céu era frio, as gotinhas se abraçaram, formando as nuvens.
Quando as nuvens superpopulavam de gotinhas, elas desciam de novo, contentes por voltar a ver suas antigas companheiras.
...
Aí havia um buraco, e havia muitas gotinhas!
As gotinhas encheram o buraco de alegria.
Aí veio uma mulher filha da puta no carro e separou as gotinhas entre si e do buraco...
que triste ficaram!
E as pessoas do ponto se molharam com as gotinhas...
mas não ficaram alegres. Porque será? AAAAAHHHH!!!!!
...
Moral da história: quem toma lama na cara não fica alegre!