segunda-feira, 30 de junho de 2008

quarta-feira, 28 de março de 2007

Olha mais um dia passando por mim
e junto com ele todas essas coisas de dia
horas, manhã, tarde e noite. Tempo.
São as horas, vinte e quatro delas ou mais,
que passam, ora breves, ora longas,
horas iguais, enquanto horas,
mas diferentes, enquanto minhas.
Olha minhas horas passando por mim.
É a manhã, do nascer do dia ao meio do dia.
Manhã sofrida, pois acordo.
Manhã vivida, pois acordo.
Acordei em mais uma manhã sofrendo, mas vivendo.
Tão cedo, de manhã.
Olha minha manhã passando por mim.
Cedo na tarde começa a tarde.
Longa tarde que demora a passar.
Da tarde cedo à tarde que tarda a chegar.
Tarde da tarde que não chega pra que a tarde acabe logo.
Duras tardes.
Olha minha tarde passando por mim (muito devagar).
Chega a noite do dia.
A interminável noite que termina o dia.
Tanta noite, mas insuficiente noite.
Noite em que não cabe o resto do meu dia.
Longa noite, mas curto uso da noite.
Olha minha noite passando, passando por mim,
mais uma vez.
Mais de uma vez.
O tempo do dia passa.
O tempo passa - meu tempo.
Todo dia um outro dia.
Toda hora um novo tempo.
É meu e não volta.

terça-feira, 6 de março de 2007

Sempre foi difícil para mim entender os fenômenos da natureza.
Não só coisas magnânimas como terremotos, erupções vulcânicas, ou Tsunamis.
Não no sentido de absorver informações científico-metereológicas, mas no sentido de absorção psicológico-sentimental.
Explico.
É difícil pra mim sentir a chuva na minha cabeça e não imaginar que o mundo inteiro esteja desabando. E assim me divertir com o choque de ir e voltar no espaço do limiar da chuva. Explico.
Numa rua chove. Na outra não.
Eu vou e volto na chuva e não chuva. Mas o melhor mesmo é ver a chuva no mar. Ver a formação do espaço cinzento, e perceber o momento exato da precipitação. De longe é uma neblina disforme. Me emociona saber que é chuva. ...

Meu bisavô Décio levava minha mãe e meu tio para o estádio de futebol, ela sempre me contou, em dias de tempo fechado.
Quando a chuva caía, espantando os demais torcedores, clamava ele - é só uma nuvem, permanecendo com as duas crianças enquanto a água celestial encharcava roupas e corpos. Cheguei a conhecer meu bisavô, mas nunca o escutei dizer a frase.
Ainda assim, repito-a como se fossem minhas próprias roupas e corpo que se molhavam naquelas fontes novas, naquela época.
Isso também porque já me acostumei a ver a tal nuvem me seguir aonde quer que eu vá. Isso porque sei que a nuvem paira sobre minha cabeça. E freqüentemente chove.
E de vez em quando cai um temporal. Sou cabeça de chuva e minha chuva é cabeça. E hoje é dia de temporal.
Quero então me centrar, incorporar o espírito de um velhinho criativo, e clamar a existência de "só uma nuvem", quando o mundo inteiro desaba em minha cabeça. (LOVE)

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007

Sentada de lado, cabelos ao vento.
Mil besteiras passando em seus lábios, coisas banais, coisas emaranhadas, saídas e logo esquecidas.
Nem sabia o que dizia, pois sua mente estava longe.
Pensava na felicidade.
Devaneava em mil planos, mil realizações, mil sonhos, que se materializavam na figura que lhe fitava. Pensava como ia ser feliz se tivesse aquele homem.
Sentado de lado, vento na cara, era mais que uma fantasia.
Ali do seu lado era realidade.
Como sua família ficaria feliz com uma união como essa?!
Um homem direito, sério, bom emprego. Que não daria por ele? Que não daria para ele?
E por isso aquela era a hora mais alegre do seu dia. A hora em que sentava de lado, hora em que maioria das pessoas não presta atenção, nem vê passar, era a hora mais esperada.
Sentia o calafrio na barriga só de ver o ônibus vindo, e quando subia, quando sentava, quando olhava...
Aquele homem do seu lado estava lá pra ser seu homem.
E sabia que seu jeito recatado, seu sorriso tímido, sua intenção pura, haveriam de encantá-lo, de fisgá-lo, de prendê-lo ao seu lado.
Mesmo consciente de que a metade de hora que passavam juntos todo dia era pouco, muito pouco, sentia algo dentro dela que dizia sim.
Um homem simpático, o cobrador, a esperança que alimentava tão ardentemente.
Tantas pessoas que passam por ele sem olhar, sem perceber, sem dar bom dia, mas pra ela tinha virado algo tão especial.

Só não esperava por aquele dia. Um dia normal, a conversa normal, os dois normais. Até que subiu no ônibus uma moça.
Uma moça! Outra moça.
Trocaram sorrisos e se reconheceram. Trocaram palavras e agradaram-se.
Uma outra moça?
Sem saber como aconteceu, ela estava em seu lugar. Era ela de lado, e os cabelos dela ao vento. Não era tão mais bonita. Mais arrumada, sem dúvidas. Salto alto, maquiagem. Cabelo esticado, roupa bem vestida de marca barata. Era toda contraste para a menina de longos cabelos crespos presos num rabo de cavalo. Era toda ressaida, toda brilho, toda luz.
O lugar era imediatamente dela por direito.
De lado, naquele lado.
Aos poucos foi-se percebendo algo mais. Os passageiros também a notavam. Era uma linda morena. Seu sorriso era demais gracioso. Seu riso era demais iluminado. Não que fosse tão mais bonita que a outra, mas era sem dúvida melhor.
Enfurecida, sem perceber, foi sentar-se na frente, emburrada, ouvindo cá e lá uma risadinha mais alta vinda do fundo do veículo. Agüentou como pode a humilhação que achava que sofria. Mas a verdade é que ninguém a viu ser substituída, isso porque ninguém a viu absolutamente. Mergulhada em ódio e indignação, teve de voltar trotando até a catraca e buscar seu troco. Maldito, porque não havia dado antes? Aquela desculpa antes tão bem vinda e provocante foi agora um martírio.
Olhou com raiva para os dois, que sequer notaram sua presença. E neste momento notou uma figura sentada só num assento.
Um pouco mais velha, branca, alta, era realmente imponente. Observava seu rosto encoleirizado com olhos escuros e inteligentes. Seus cabelos logos voavam com o vento, mas ela estava de frente. Não que fosse tão mais bonita que ela, mas era muito diferente de uma forma bela. Pensou que se fosse como ela seus sonhos seriam maiores. Pensou que se fosse assim diferente mereceria algo melhor que um cobrador. Pensou que se fosse outra, lhe viria algo de melhor. E mesmo que se decepcionasse, seria por alguém que valesse a pena. Virou-se e desceu do ônibus melancólica.
Sem dúvida naquela noite choraria copiosamente até dormir.

segunda-feira, 6 de novembro de 2006

"Eu não queria ir assim... Tão triste, triste..."

***

Encosto meu rosto num peito molhado de lágrimas. Minhas próprias lágrimas. Sinto a respiração. O coração pulsando. Me conforta e me acalma... pela última vez. A sensação boa só aumenta a dor aguda que é a dor do Adeus. Sei que devo partir, que devo deixar. Só não sei se sou forte (fraca) para aguentar essa lembrança. Lágrimas que caem e molham, não o peito, mas o lençol. Sozinha. Corações se ganham e se perdem todos os dias.

***

"A corda bamba estourou E despencou para o lado mais forte E se me afogo na dor É para cicatrizar nosso corte..." "Você poderia até tentar Dizer as frases que eu já sei de cor Mas meus olhos de nuvens pesadas, Surdos de tanto silêncio..."

***

Por que caminho vai andando agora? Deixa um rastro molhado com os olhos... Por onde pisa enquanto passa? Sonhos, planos, vidas. Ficando pra trás. Que pedras sob teus pés? Soltas, incertas, inseguras. E vai só. À frente, uma neblina escura. Planta solidão. Rega com lágrimas. Vai só e vai com medo. Medo de não querer colher o que plantou. Deixar lá: apodrecendo.

***

Pensamentos anuviados com a dor. Alegria desbotada, sem cor. Coração machucado, doendo. Alma ferida, sofrendo. Músicas tristes, filmes de amor. Beijos sem gosto, abraços sem calor. Sonho interrompido, vida separada. Espírito sofrido, página virada. E o medo. Medo de alegria, música, filmes, beijos, abraços, sonhos de amor: sem mim.

***

"Não adianta Me ver sorrir Espelho meu Meu riso é seu Eu estou ilhada Hoje não ligo a TV Nem mesmo pra ver o Jô Não vou sair Se ligarem não estou À manhã que vem Nem bom-dia eu vou dar Se chegar alguém A me pedir um favor Eu não sei Tá difícil ser eu Sem reclamar de tudo Passa a nuvem negra Larga o dia E vê se leva o mal Que me arrasou Pra que não faça sofrer Mais ninguém Esse amor Que é raro E é preciso Pra nos levantar Me derrubou Não sabe parar De crescer E doer... "

sexta-feira, 3 de novembro de 2006

As voltas do mundo,
e as voltas da vida.
O mundo girando,
círculos,
ciclos.
E a vida indo e vindo.
O zigue-zague redondo,
tonto,
náuseas.
Suporta tanta ida e vinda,
rodando.
Suporta demais.
Vida.
Toda ela de pequenos nascimentos e pequenas mortes.
Toda ela um ciclo.
Toda ela uma roda.
Toda ela girando.
Enjoando.
E morrendo.
E renascendo.
E morrendo...

Corações se perdem e se ganham todos os dias.

terça-feira, 22 de agosto de 2006

Não há que se confundir Excentricidade com antipatia.
Sou sem dúvida excêntrica.
Exótica em muitas maneiras.
Fico triste de ser considerada antipática.
Tem gente que é, e não liga de ser.
Tem gente que faz questão de ser.
Eu não.
Mas nunca hei de me envergonhar das minhas maneiras.
Muito pelo contrário!
Muito me orgulho de minha personalidade.
Muito me contento com a excentricidade do meu ser.
O que me apavora é a mediocridade.

sexta-feira, 4 de agosto de 2006

Uma menina má como ela é de inspirar arrepios! Emanava maldade infantil, espalhava dicordia e sofrimento nas proporções da infância. Se no futuro Fulaninha jamais daria escova nos cabelos de tanto serem puxados, se Cicraninha já não tinha braço sem roxo para beliscar, culpa dessa menina má. Se a professora alérgica passava as tardes espirrando com o pulmões cheios do pó de giz estrategicamente colocados na porta de sua entrada, se a professora míope esmagou o nariz na parede pelo súbito sumiço de seus óculos, culpa da maldade da menina. Não fazia questão de ser criativa, mas se tornava, as vezes. Gatos da rua tinham rabos xamuscados, brincos na orelha, dentes pintados, linguas apimentadas, pelos depilados. Negros gatos que tiveram o azar de cruzar a rua em que morava uma menina tão má. Se prima Maricotinha ficou sabendo que tinha uma cara no nariz, já sabe quem avisou. Se prima Nicotinha descobriu que a palha de aço parecia com seu cabelo, ja sabe quem alertou. Se Tia Norinha não tinha percebido o quanto tinha estava balofa, ela percebeu. Se Tia Dalinha nunca tinha notado o quanto era vesga, ela notou. Não se incomodava de ser má, e fazia questão de que todos conhecessem e provassem de sua maldade. Foi crescendo. Aos 13 disse pra seu amigo Dudu que ele estava estudando pouco e que assim iria perder de ano. Perdeu de fato, e a achou muito má. Aos 14 disse pra sua amiga Lila que seu namorado não prestava, não gostava dela, e que devia a estar traindo. Estava de fato, e Lila a achou muito má. Aos 15 disse pra o Tico que não gostava nada dele, e que acabaria partindo seu coração. Partiu de fato, e ele a achou muito, mas muito má mesmo! Aos 16 disse pro Zeca que não queria nada com ele, mas ele nem ligou. Uma vez má, sempre má. Se apaixonou. Mesmo assim não deixou de ser maldosa. Gostava tanto dele, e se sentia insegura, transbordava de ciúme sufocante - para os dois. Ele achava que isso era uma maldade. Sabia que devia se livrar de tanto sentimento, mas continuava, e estimulava o gostar dele, que crescia, crescia... Brigavam, brigavam muito! Ele dizia: - Segue sua vida! Ela dizia: - Não posso! Ele achava que isso era uma maldade com ele, mas a apertava com força, com amor, com necessidade. Casaram. E não deixou de ser má depois de casada. Reclamava da toalha molhada, e da roupa espalhada. Reclamava da falta de tempo, e da pouca atenção. Ele achava uma maldade, e ela era realmente má. E sabia disso. Até que um dia se perguntou como poderia continuar sendo tão má com a pessoa que mais amava no mundo. Bom... Talvez ela não se acharia tão má, se soubesse que só por existir fazia de uma pessoa a pessoa mais feliz que existe... E isso não é nada mal.

segunda-feira, 10 de julho de 2006

Era a personificação de um coração partido.
Aparência, então, não podia ser boa.
Olhar para ela era sofrer.
Transbordava em seu semblante tempos de amor e
felicidade
liquidados por muitos outros tempos de dor
e tristeza.
Transbordava dor e tristeza.
Tão cheia que estava da dor e da tristeza que escorriam
pelos olhos.
Não pense que era bom olhar pra ela.
Era terrível.
A angústia contagiava.
A imagem era desagradável.
Era daquelas coisas horrorosas que se tenta desviar os olhos
mas não consegue porque ninguém se priva de um espetáculo bizarro que aparece assim tão fácil pra ser apreciado.
Mas não pense que alguém tinha pena.
Ninguém tinha pena.
Aquilo era o óbvio.
Era se ver, e finalmente a redenção.
Porque um dia ia chegar em que ela também iria se ver,
lembrar do ser infeliz que já foi,
agradecer ser feliz então,
sentir horror por uma imagem corroída (como era agora a dela),
mas se sentir bem por não ser mais ela.
Se sentir bem por se vingar num desconhecido. Sem pena.

sexta-feira, 30 de junho de 2006

Nova.
Muito nova.
Desgaste.
Desgaste demais.
Cansada.
Sempre. Dá-me luz, ó Deus do tempo.
Dá-me tempo, ó Deus da luz.
Quero sair e curtir, e acordar tarde quando não dormir.
Como se volta ao início?
Minha vida não tem slow motion... Nem reverse.
Na verdade nem foward.
Só um imenso e contínuo play.
Quero meu controle remoto!!!!!
Não controlo nada, nem play, nem stop, nem pause.
Ê vida que segue seguindo, sem sede, sem sono, sem dono.
Ê eu, que vivo vivendo, sem rumo, sem plano, sem dono.
Vida sem controle nem remoto.
Vida nova.
Desgastada.
Cansada.
Mais ainda assim, vida.
Voada. Engraçada.
Comédia - em play.
Romance - sem slow motion.
E marasmo, sem foward.
Regrets, no reverse.

quarta-feira, 31 de maio de 2006

Suspiro. (É ele de novo). Cheirinho gostoso de infância, torta
de abacaxi. Avó. Festa.

Pisquei. (É ele de novo). O sol do Rio Vermelho no meu
rosto. As ruas conhecidas do Rio Vermelho, rostos
conhecidos do Rio Vermelho. Não vou tropeçar.

Oba! (É ele de novo). Meus amigos. Queridos amigos.
Conversando, rindo. A velha mesa do bar - e os meus
amigos.

Ai. (É ele de novo). Domingo em família. Ah, vai! Te querem
bem. Sempre te quiseram bem. Está seguro agora. É o lar.

Não acredito. (É ele de novo). Grande locutor! Essa é minha
música. Tanto tempo que não ouço. Que bom ouvir essa
música...

Nossa! (É ele de novo). Que livro! Que filme! Que aula! Que
dia...

Sorriso. (É ele de novo). Não esperava, mas veio. Surpresa.

Olhos fechados. (É ele de novo). Brisa no rosto, calor no
corpo, banho gostoso, cama macia. O dia
foi duro, mas sempre se chega em casa.

(AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAaaaaaaaaaah!) Silêncio. É ele de
novo. É você finalmente em seu lugar: os braços em que
você sempre quis estar, a pele que sempre quis sentir.
Matar a sudade. Ah, esse cheiro! Ah, esses cabelos! Aninhar-se.
Proteger-se.

Lágrimas. É ele de novo em sua plenitude.

Felicidade não existe, mas eles sempre vêm.

sexta-feira, 20 de agosto de 2004

*Nada e nada mais*

Eu sou um nada, disforme, informe, conforme
cheio de espaços vazios, inflado de vácuo.

Um nada pronto pra explodir e despedaçar em
pedaços que não servem pra nada.

Dolorido da dor de ser um nada qualquer
que não agrada ninguém e sabe disso.

Cansado do cansaço que toma os nadas que
já tentaram ser algo para alguém,
mas continuam nada pra ninguém.

Não ser pode responder a questão dos nadas
que de fato não
são nem vão ser.

Sou pior que os que são um vazio
nem sequer sou:

Eu nada vazio.

E só.

segunda-feira, 23 de agosto de 2004

Havia uma floresta... ninguém morava lá.
Depois alguém foi morar lá, e esse alguém fez casas.
Até que um dia, acharam necessessário criar ruas, e muitos anos depois o governo resolveu asfaltar.
Asfaltaram muitas vezes, e o asfalto era tão bom que durava um mês inteiro com carros passando até que os buracos aparecessem... UM MÊS INTEIRO!
...
A história das gotinhas
As gotinhas ficavam nos oceanos, mares, rios, lagos e lagoas, muito felizes, molhadas.
Aí veio o sol e esquentou as gotinhas, fazendo elas ficarem leves e alegres, voando para o céu.
Como o céu era frio, as gotinhas se abraçaram, formando as nuvens.
Quando as nuvens superpopulavam de gotinhas, elas desciam de novo, contentes por voltar a ver suas antigas companheiras.
...
Aí havia um buraco, e havia muitas gotinhas!
As gotinhas encheram o buraco de alegria.
Aí veio uma mulher filha da puta no carro e separou as gotinhas entre si e do buraco...
que triste ficaram!
E as pessoas do ponto se molharam com as gotinhas...
mas não ficaram alegres. Porque será? AAAAAHHHH!!!!!
...
Moral da história: quem toma lama na cara não fica alegre!