segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Sim, depois de anos...

Eu estava ainda me alimentando, sentada numa mesa na praça de alimentação, esperando minha sessão começar. Notei que havia algo errado quando vi uma moça grandona chorando aos soluços. Virei o pescoço e bati os olhos num homem de barba com os olhos vermelhos e cheios de lágrimas. Assustada, olhei em volta, e reparei que uma em cada três pessoas estava em prantos. Minha mesa ficava na frente da saída das salas de cinema, e em pouco tempo percebi que as pessoas estavam saindo do filme que eu tinha pago para ver.

Sim, paguei para ver Marley e Eu, em todos os sentidos literais ou metafóricos possíveis. E não foi por causa daquela multidão chorosa que descobri como me sentiria a respeito do filme, já era bem óbvio, mas, ainda assim, paguei pra ver.

Marley e Eu não é um filme surpreendente, é inclusive bem fácil entender o porquê dele ter se tornado o hit natalino da vez. Já sabemos que há um apelo canino, uma via fácil de identificação de boa parte da população. Sabemos também que ele é baseado num Best Seller de não-ficção, ou seja, mergulho na vida real de alguém que deve ser gente como a gente. Não, não há um terceiro fator, é exatamente por isso que as pessoas estão pagando (literalmente) pra ver, porque elas se identificam com o cachorro e com o casal.

Eu nunca tive um cão, ainda não me casei, não tenho filhos, mas ainda assim me emocionei com a história. Isso acontece porque ela fala basicamente de escolhas, de lidar com as frustrações da vida, e, principalmente, com o tempo que passa.

Vemos o tempo passar com Marley, o pior cão do mundo, que entre devorar móveis e eletrodomésticos, vê seus donos tendo que lidar com as responsabilidades da vida. O casamento, a profissão, a paternidade, escolhas que devem ser feitas, e que por mais que possam mudar o rumo das coisas, não devolvem o tempo que passou. Marley está lá para mostrar que quando o cão de liquidação foi escolhido para dar início àquela família, o passo estava dado para a criação de um laço que vai muito além do que queríamos ser, que está no que efetivamente somos. Ou nos tornamos.

Assim como Marley, o tempo não pode ser mandado embora por estar atrapalhando, ele existe e faz parte da vida dos protagonistas, assim como da nossa. E a existência do tempo e de Marley nos faz ver de que é feita a vida, de constantes e intermináveis sacrifícios e recompensas, que vão fazendo nossa história e nos permitindo algum grau de felicidade, nos momentos a ela reservados.

Não me entendam mal, não estou dizendo que Marley e Eu é um filme revolucionário que me mudou a forma de enxergar a vida. Na verdade é um filme água-com-açucar, com alguns momentos engraçados, e sim, feito para chorar. Mas a banalidade da história pode mexer com algumas realidades conformistas, que se confortam com o final feliz? Sim. Os conformistas de verdade merecem tapinhas nas costas? De jeito nenhum, chutaria eu mesma alguns traseiros por aí. Mas pra mim o filme é um deleite para aqueles que estão certos das escolhas que fizeram, e que se esforçam pra encaixá-las da melhor maneira possível em seu ideal de felicidade. Com ou sem casamento. Com ou sem cachorro.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Pshhhhhhh!

Ela pensou naquela madrugada, que era hora de recomeço, e que era hora de decisão.
Viu que havia um novo ano chegando, e decidiu decidir e ser firme nas resoluções.
Sentiu que a vida estava frágil, que a bagunça era geral, mas sentiu que podia por tudo em ordem, organizar por cores e importância, talvez ordem alfabética.

Ligou para sua amiga maior, e confidente, contou de um ponto de partida.
Ouviu a risada habitual, a graça, tudo aquilo que já conhecia e que denunciava os anos. E os anos denunciavam que certas amigas acham que nos conhecem melhor do que nós. Então contou que estaria só, naquele ano novo, e que ficaria bem.

E pensou que se conhecia melhor que ninguém, e que tinha mesmo passado aquela idéia errada, mesmo pra quem viu os anos passando com rumo. Mas uma idéia é só uma idéia, o que sabia era da verdade. Ela então dialogou com si, voltou a falar das borboletas de Elton John, voltou a falar dos romances que não se complicam pelo mais ou pelo menos. Voltou a falar da riqueza do ser, do peso e da leveza. Voltou a falar de si como um ser único que não precisa de ninguém para existir, existe.

E soube que naquele novo ano, algo especial ia acontecer. E o algo especial era sua vida. Ela pensou naquela madrugada que sua vida continuaria naquele ano. Que 2008, maldito, não a havia derrotado.
E preparou-se para o que queria de um ano novo.
Queria um algo que é doce. Queria um algo que é firme. Queria um algo que é bem. Queria um algo que é de valor. Queria um algo que é possível. Queria um algo que é real. Queria um algo que é rico.
Mas querer não basta, basta?

P.S. Pshhhhhhh!

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

A Christmas Carol

"E os fregueses estavam todos tão apressados e impacientes com as promessas do dia, que tropeçavam nas portas chocando-se com as bolsas de vime, esquecendo suas compras no balcão e depois voltando às pressas para apanhá-las, e cometendo centenas de erros semelhantes com o melhor humor possível; enquanto isso, o merceeiro e seus empregados eram tão francos e cordiais que as lustrosas fivelas em forma de coração que prendiam seus aventais bem que podiam ser o seu símbolo, os seus próprios corações usados do lado de fora, expostos à inspeção de todos, para qualquer um se servir deles no Natal."

Charles Dickens

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

DESTINATÁRIO IDENTIFICADO: você.

(É...)

Se pudéssemos medir
o quanto do longe que nos afeta
Se conseguíssemos saber
até onde nossa mente fantasia
Não seria necessário revelar
e seria aceitável mentir para nós mesmos
Devanear que o real é de mentira
E nos convencer da nossa loucura.
Se pudésemos ter a certeza
de que o que pensamos é pura besteira
Não precisaríamos nos repetir e nos dizer
que o que pensamos é besteira pura.
Não seria necessário lutar
contra nossa falta de razão,
que busca racionalizar
as tantas emoções.
Se o lunático se mostrasse em sua certeza,
de que o longe e intangível faz o que faz,
que as coisas são como são,
que cada um é de quem é,
que o controle é mínimo,
que o predestino é real,
que ele chegou atrasado,
e que ele está fora da órbita deles,
sua lua estaria mais próxima,
seu mundo seria menor, mais caminhável,
sua fantasia seria vivível,
e acharia o que é seu por direito.

(Sim...)

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Mudando a figura.

Não me fale de borboletas.
Inseto efêmero de beleza duvidosa.
Seres-gentes como nós não voam, e não têm vida tão besta.
Não me fale de flores.
Flor é só flor, tem cheiro e tem cor, mas não vira sentimento.
Seres-gentes como nós vivemos romances de verdade.
Não me fale de lua.
A lua está muito longe, e não passa de um satélite sem luz própria.
Seres-gentes como nós controlamos nossa distância e nossa luz.
Não me fale de olhos.
A não ser que sejam seus olhos, e não espelhos, retratos, ou coisas assim.
Seres-gentes como nós, vemos com os olhos, e não sentimos.
Não me fale de chuva.
Chuva é água, muito bem, mas não lava almas e sentimentos.
Seres-gentes como nós não procuramos na chuva a solução.
Não me fale de jogos.
Jogo é passatempo, e na vida o tempo passa independente de nossos movimentos.
Seres-gentes como nós não arriscam sem ter o que perder.
Não me fale de janelas.
São elos com o mundo exterior e nada mais.
Seres-gentes como nós não tem janelas como passagem aos outros.
Não me fale de plantar e colher.
Será que somos vegetais a espera de um plantar?
Seres-gentes como nós, apenas fazemos e aguentamos a consequência.
Não me venha com suas metáforas.
Cansei delas, amedrontei.
Não quero pensar em mim como nada além do que sou, não quero raciocinar pra entender o que me diz.
Sejamos transparentes, como belos seres-gentes.
Não me fale de areia, não quero pensar em mim como caminhão.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Por pertinência.

Em idos de 2005, algum momento acadêmico...


Não me parece terrível, ou totalmente descabido, me perguntar o que estou fazendo aqui. Que motivo extraordinário houve para me tirar da cama na tenra manhã, desembolsar uma pequena fortuna em condução e aqui chegar para descobrir a terrível enfermidade da garota, da mocinha dada a rebeldia civilista que teima em nos lecionar o que outrem ache conveniente, e que a impediu de comparecer ao nosso encontro de hoje, conferindo-nos verdadeiro bolo! Para descobrir que o professor mal-amado mor trouxe da Itália o seu amante italiano, que o ama muito mal, para nos falar sobre algo que deve ter algo de útil, mas que se inutiliza completamente no momento em que não entendemos absolutamente nada que ele, aparentemente, fala.
Que diabos ele está falando aí? Ave, hã, o que? Dentro de instantes estarei indo (na melhor construção estar + gerúndio) embora. Fora daqui!