segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Mudando a figura.

Não me fale de borboletas.
Inseto efêmero de beleza duvidosa.
Seres-gentes como nós não voam, e não têm vida tão besta.
Não me fale de flores.
Flor é só flor, tem cheiro e tem cor, mas não vira sentimento.
Seres-gentes como nós vivemos romances de verdade.
Não me fale de lua.
A lua está muito longe, e não passa de um satélite sem luz própria.
Seres-gentes como nós controlamos nossa distância e nossa luz.
Não me fale de olhos.
A não ser que sejam seus olhos, e não espelhos, retratos, ou coisas assim.
Seres-gentes como nós, vemos com os olhos, e não sentimos.
Não me fale de chuva.
Chuva é água, muito bem, mas não lava almas e sentimentos.
Seres-gentes como nós não procuramos na chuva a solução.
Não me fale de jogos.
Jogo é passatempo, e na vida o tempo passa independente de nossos movimentos.
Seres-gentes como nós não arriscam sem ter o que perder.
Não me fale de janelas.
São elos com o mundo exterior e nada mais.
Seres-gentes como nós não tem janelas como passagem aos outros.
Não me fale de plantar e colher.
Será que somos vegetais a espera de um plantar?
Seres-gentes como nós, apenas fazemos e aguentamos a consequência.
Não me venha com suas metáforas.
Cansei delas, amedrontei.
Não quero pensar em mim como nada além do que sou, não quero raciocinar pra entender o que me diz.
Sejamos transparentes, como belos seres-gentes.
Não me fale de areia, não quero pensar em mim como caminhão.

2 comentários:

Ju Marques disse...

Pra que mudar de figura, quando suas figuras, em verdade, nada mais são que partes de vc!?

E mais... há que entender que as metáforas não existem em si!
Que são elas senão criação dos "seres-gentes"?!

Criação esta que, não raras vezes, nos vêm revelar mais verdades que a verdade "pura".

Portanto, sejamos transparentes, sim! Como a água mais limpa, do mais limpo poço...
E não se canse de bebê-la, pois, embora pense que não, é com a ajuda dela que conseguirá matar a sua sede de razão!

Unknown disse...

E os tijolos?