segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Princesa de chamas

A dor que não larga e o pesar que não separa, abre as cortinas
Esquentemo-nos no abraço quente da mágoa: pública
Maquio o rosto em lágrimas coloridas
para ganhar a noite em solidão
Reunir todo o despeito do mundo, toda a tristeza de todas as pessoas
para reinar soberana,
ofendida,
amuada,
destratada,
martirizada
no espetáculo choroso
do drama.

Saudações, da terra do gelo.

sábado, 30 de novembro de 2013

Quem diria

Primeiro ergueria as paredes, querendo afastar os perigos. Ia querer cercar.
Depois construiria um telhado, querendo inibir o sol e o calor, a chuva e o frio. Ia querer cobrir.
Colocaria uma porta e trancaria. Ia querer me proteger e ser só contra o mundo.
E eu seria só enquanto viveria nesta casa que seria minha casa, com as coisas que seriam minhas coisas, e sentimentos que seriam só meus.
Ia querer me isolar atrás desses muros, andar pelos quartos e salas vazios, afastando todo o resto.
Me trancaria em minha casa mesmo sabendo que era a ti que eu mantinha do lado de fora.

E assim eu estaria a salvo.

Mas eu então, quem diria, sentiria falta do mundo. De viver como o mundo, e sentir como o mundo.
Sentiria saudade do sol e do calor, da chuva e do frio. E me veria desejando até o perigo.
Assumiria o risco.
E num ato de loucura, sim, loucura, viraria a chave, giraria a maçaneta, abriria a porta.
Como um milagre, ainda estarias lá.
E só então, quando entrasses enfim, minha casa deixaria de ser uma casa.
Se tornaria um lar.

sábado, 23 de novembro de 2013

Se pensa que vai explodir
de carregar o peso de um mundo sozinha
um mundo inteiro, denso, nebuloso, insone, solitário
Se explodir
virando milhares de outros mundos
todos desabitados, desolados
Se engana.
Ao contrário, definha. 

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Sonhei um sonho.
Que virou pesadelo.
Que virou outra coisa...
era eu acordando.

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Não é nada disso:

A carne que rasga, a pele que esfola, o sangue que escorre
Acalmai-vos
não é morte.
A dor que sufoca, o grito que enrouquece, o silêncio que amarga
Suportai
não é morte.
A angústia que desentranha, o choro que regurgita, o desespero que paralisa
Tranquilizai-vos
não é morte.
A saudade que mata, a vontade que mata, o arrependimento que mata
Diverti-vos
também não é morte.

(é só ciume)

sábado, 16 de novembro de 2013

Aquela voz que cala quando há palavras a serem ditas
Aquele tom que desafina quando a música é pra ser ouvida
O grito que soa quando é carinho que se espera
O olhar que destoa quando é entendimento que se busca
Quem sou eu pra falar de esperança?

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Já regou os campos de onde nascem as mais lindas flores de primavera
alagou os charcos pantanosos de plantas malditas
encheu a poça em que a criança se banha no mar
escorreu nos navegáveis rios onde trabalha o pescador
quando o pé pisou virou lama
quando o peixe nadou virou caminho
mas não serviu pra matar a sede no deserto
água salgada
inundando o olhar
"A história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa”

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Engano

Provei de um gosto salgado
pensei que eram lágrimas
mas era só suor

Senti um gosto amargo
achei ser tristeza
acabou sendo saudade

Notei que não tinha mais gosto
julguei ser engano
tornou-se pura realidade

E quando o gosto foi mais doce
quis que fosse de verdade
eis que logo em seguida
acordei

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Empatia

Seu riso me faz engraçado
Ria demais
engasgo gargalho
Preocupado me faz retesar
e pensar e pensar
enfezado atrapalho
Que pesar que não é o meu
e faz acabrunhar
murcho cabisbaixo
Sua alegria é minha alegria
Sua dor é minha dor
E se te deixo
sou eu que fico só.

sábado, 21 de setembro de 2013

Lucidez

Supondo viver sobre a linha entre o real e a loucura
não espera-se viver em sonho um pouco da aventura
que deseja avidamente ao encobrir-se da ternura
pois que mais cedo que tarde chegará ao ponto de ruptura
o sol abreviará o delírio da luz que porventura
somente experimenta quando a hora é mais escura.

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Quote:

(...) And they say there is no fate, but there is: it's what you create. And even though the world goes on for eons and eons, you are only here for a fraction of a fraction of a second. Most of your time is spent being dead or not yet born. But while alive, you wait in vain, wasting years, for a phone call or a letter or a look from someone or something to make it all right. And it never comes or it seems to but it doesn't really. And so you spend your time in vague regret or vaguer hope that something good will come along. Something to make you feel connected, something to make you feel whole, something to make you feel loved. And the truth is I feel so angry, and the truth is I feel so fucking sad, and the truth is I've felt so fucking hurt for so fucking long and for just as long I've been pretending I'm OK, just to get along, just for... I don't know why... maybe because no one wants to hear about my misery, because they have their own. Well, fuck everybody. Amen.

Tradução livre do que dá pra traduzir:

E eles dizem que não existe destino, mas existe: é o que você cria. E mesmo o mundo continuando por eras e eras, você só está aqui por uma fração de uma fração de segundo. A maior parte do tempo você passa morto ou sem ainda ter nascido. Mas enquanto vivo, você espera em vão, desperdiçando anos, por um telefonema, ou uma carta, ou um olhar de alguém, ou alguma coisa que faça tudo ficar bem. E nunca acontece, ou parece que acontece mas na verdade não. Então você passa seu tempo num vago arrependimento, ou numa ainda mais vaga esperança de que algo bom vai acontecer. Algo que te faça sentir conectado, algo que te faça sentir completo, algo que te faça sentir-se amado. E a verdade é que eu me sinto tão zangado, e a verdade é que eu me sinto tão fucking triste, e a verdade é que tenho me sentido tão fucking magoado por tanto fucking tempo, e pelo tempo que venho fingindo que estou bem, só pra ficar de boa, só pra... eu não sei porque... talvez porque ninguém queira ouvir meu mimimi, porque eles têm seu próprio. Bom, fodam-se todos. Amém.

(2008, MINISTER, Synecdoche, New york)

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Sentido da Vida

O segredo é filtrar
Não deixar a vida te dar
catastróficas doses de realidade
homeopáticas pílulas de sonhos
E tapas na cara de despertar.

domingo, 21 de abril de 2013

Saudações da Terra dos Sonhos

Ser o humano
ser a cor e o cheiro
viver a delícia e a percepção
ser do mundo
do seu mundo e dos outros
funcional
sensorial
vivo...
Viva o calor do ser humano
do ser gente
que se deslumbra e se contagia
se dar

se sentir...

E se não sentir
ser ser humano
sem sentir?

Bem vindos a terra do gelo.
Da Rainha Azul
do colorido de cinza
da parede de cimento
do escudo da neve;
Que é fria, não esqueça
espinhosa, cuidado
desconfiada
entorpecida
e difícil.

E se sentir, ainda assim?
Que lhe toca a palavra (ou falta dela)
que lhe chega o ato (ou falta de tato)
que lhe falta o jeito (e a via e a prática)
Será humano ser assim?

terça-feira, 16 de abril de 2013

Adeus tardio

É difícil saber a hora de partir.
Medita se o que fez foi fugir,
ou ir somente para enfim se encontrar.
É difícil ver algo submergir.
Encontra o meio pra se esvair,
a se embrenhar de vez bem longe do mar.
É difícil substituir.
Busca de novo como se incluir,
e se alivia por nunca mais ter que voltar.