quinta-feira, 3 de julho de 2008

terça-feira, 5 de junho de 2007

Há quem procure efemeridades.
Um perfume suave que agrada sem deixar marcas.
Tem gente que se diverte e se encanta no mundo das relações passageiras e sem causa.
Divertem e encantam as paixonites de momento, que satisfazem a libido e o ego nos breves momentos em que tomam lugar.
Tem quem se cubra da inocente promiscuidade.

Há quem procure paixão.
O manjado fogo que queima a palha.
Tem gente que se nutre da corrosão da alma promovida pelo desejo.
Nutridos e corroídos pela máxima da química que é a genuína atração por quem não se decide desejar.
Tem quem se inunde com essa voracidade.

Há quem procure amor.
Uma rocha firme em que se apoiar.
Tem gente que necessita da certeza e da completa entrega, de um sentimento dando causa.
Certos e completos os que amam, aquecidos os corações com a presença do amor.
Tem quem se iluda com a eternidade.

Há quem não procure nada.
O buraco escuro da solidão.
Tem gente que se fecha em concha e se priva das relações emocionais por medo, proteção ou acomodação.
Quietos e silenciosos os que observam os outros sem participar.
Tem quem se contente com essa "paz".

Eu particularmente não quero nada disso.
Não quero momentos efêmeros sem sentido.
Nem me acabar em paixão doida.
Nem "ter a certeza do amor".
E muito menos ser só.
Eu quero uma novidade.
Quero frio na barriga.
Quero nó na garganta.
Quero troca de olhares.
Quero sorrisos.
Quero alguns beijos, alguns carinhos, algumas mãos dadas, e alguns passeios por aí.
Quero um pouco dessa vida que tem nome.
E o nome disso é ROMANCE.
Quero apenas um romance. Que há de mais nisso?
Tão difícil de acontecer sem complicar pelo mais ou pelo menos...

quarta-feira, 30 de maio de 2007

Ah, a vida...
Tem algo mais misterioso e imprevisível?
A vida é o que está em todos nós, e que não sabemos o porquê.
Por que a vida dá tantas reviravoltas? Por que é tão difícil saber como viver? Será que viver é só viver, ou é também saber viver? Ou será que não saber é o sentido de tudo? Ou será que está tudo escrito? Ou será que temos que escrever? Será?
É mais difícil escrever sobre mim do que sobre qualquer outra coisa, então prefiro acreditar que alguém escreve por mim.
Além do mais não quero a responsabilidade por ter escrito alguma besteira.
As besteiras que eu fiz... não fui eu que escrevi...
Bom pensamento esse, mas como acreditar nele? O sentido da vida é esse? Ficar pensando na vida? Ou o sentido da vida é só ir?
Ir indo, ir andando, ir seguindo, ir adiante, até o fim...
Qual o sentido da vida?

terça-feira, 8 de maio de 2007

Rapaz - R:
Um outro rapaz - UOR:

***
R: Olha só que criatura mais graciosa!
UOR.: Sim, a vejo.
R: Além de culta, é bela e atraente!
UOR.: De fato.
R: Gostaria muito de tê-la!
UOR.: Tome-a.
R: Não seria capaz!
UOR: Por qual razão?
R: Por mais ardente desejo que sinta agora por essa moça, uma vez satisfeita a minha luxúria terminaria por abandoná-la e partiria seu coração!
UOR: Possivelmente. Tome-a mesmo assim.
R: Não farei algo assim com tão doce ser humano.
UOR: Entendo.
R: Parto eu, então, meu coração.
UOR: ...

terça-feira, 24 de abril de 2007

(Esqueci de dizer que o post anterior também continuava)
Na semana em que Carla ficou noiva Cláudio ganhou uma promoção. Era o emprego dos sonhos, diriam alguns. Era o esposo dos sonhos, diziam algumas. E para piorar receberam visitas. Naquela semana Luana teve que suportar longas horas de conversação voltada para o enaltecimento dos feitos dos irmãos, que acabaram por suplantar completamente a alegria que tinha começado a sentir pelo sucesso dos dois. O pior para Luana era ver falsidade e hipocrisia em cada olhar disfarçado pelos incontáveis sorrisos. Não seria lógico que só ela sentisse inveja, e não era. Mas todos na casa tinham que tolerar o choro de emoção das tias e os tapinhas nas costas dos vizinhos. Naquela semana só Luana teve tempo pra ela mesma, e em suas reflexões chegou ao seu limite. Foi quando soltou seu berro de indignação, meio sem saber ao certo com o que se indignar dentre tantas opções cabíveis. Não sabia se devia se indignar com sua irmã perfeita. Ficar indignada com a beleza, com o caráter e com a inteligência da irmã quando ela própria era tão menos. Indignar-se com seus atributos que tinham vindo todos pela metade. Ou talvez devesse se indignar com seu irmão perfeito. Ficar indignada com seu irmão tão bonito, cativante e bem sucedido, quando ela própria não tinha nada de seu. Indignar-se que não havia nada o que se admirar nela própria. Ou talvez fosse se irritar com o fato de ser admirada por eles. Que tinha Carla que ser presente, interessada, afetuosa, cuidadosa, e acima de tudo parecer tão sincera? Não era uma mulher perfeita que era sua irmã. Era mesmo uma irmã perfeita. E que tinha Cláudio que lhe aconselhar, motivar, ensinar, e até arrumar aquele namorado que ela tanto queria? Irmão perfeito também. Seu berro de indignação era por ver que todo seu ódio inflamado esbarrava no não ser.
Não era.
Não tinha.
Não odiava. Não aqueles dois.
Não eram pessoas a quem fosse possível odiar. Eles eram perfeitos.
Ela era tão comum que parecia gente. Tão gente que tinha sentimentos comuns. Odiava e amava, chorava e ria, dormia e acordava, comia, conversava, pensava, tudo dentro do mais rigoroso padrão do ordinário. E nada fora disso. Podia odiar o tudo que existia para odiar nos irmãos ou no que quer que fosse, mas esbarrava no que havia para gostar. E gostava também.
É isso.
Tudo normal, nada de especial.
Com altos e baixos, é verdade. Com mudanças de humor é verdade. Mas não podemos culpar Luana por ser humana.
Por ficar triste por bobagem.
Por berrar.
Por chorar.
Por chocar.
Por ser fútil.
Por ser apenas mais uma.
Não há nada de mais sobre ela.
Luana apenas tem uma natureza controversa. Como toda autêntica geminiana.
(FIM)

quinta-feira, 19 de abril de 2007

(Continuação dos posts anteriores, um pouco mais longa, admito)
Cláudio tinha mãos macias, dessas que fazem uma mulher olhar de novo para um homem que estava cumprimentando sem reparar. Mas não precisava das mãos para chamar a atenção feminina. Tinha um apelo absoluto entre o público do sexo oposto. O rosto angelical era emoldurado por um cabelo rebelde, que teimava em encobrir os olhos espertos e infantis. Num gesto rápido, lançava-os de novo para o lugar com um meneio de cabeça. Esse tique fazia suspirar de longe as inúmeras mocinhas em que despertava violentas paixões reprimidas. Se só com esse movimento involuntário que lhe acometia repetidas vezes no espaço de um minuto ele encantava-as, o que dizer de seu sorriso fácil, iluminado, sincero, impecável, que acompanhava o olhar profundo nublado pelos fios escorridos? Era arrebatador. Cláudio era um belo rapaz. Desde cedo adquiriu forte constituição, tinha os ombros largos e os pés grandes. Os músculos eram bem definidos, embora não tanto desenvolvidos. Mas não era um homem que se pode chamar de delicado fisicamente, tinha figura bastante expressiva, homem grande, na verdade. Era o irmão do meio, único homem, instituído prematuramente chefe de família. Função que desempenhou com responsabilidade que é rara em moços de sua idade. Fiel companheiro do avô - senhor correto - era, entretanto, rodeado de mulheres, seres pelos quais desenvolveu verdadeira devoção. Dedicado irmão, cuidava de perto da caçula, e aconselhava a primogênita. Tornou-se rapaz capaz de respeitar, compreender e admirar as mulheres como são pouquíssimos outros homens, de qualquer idade. Essa característica rendeu a Cláudio a preferência das avós e das tias, solteiras ou casadas. Das primas e das amigas das primas, mais novas ou mais velhas. Das antigas colegas da mãe, vizinhas, professoras, amigas, colegas, conhecidas, transeuntes. Afinal, era um rapaz adorável! Mas sobretudo porque era lindo de morrer. Sempre foi bom de notas e dedicado no estudo. Conciliava o aprendizado com suas inúmeras outras atividades - nelas incluídos os namoros, que por si só já ocupam tempo suficientemente grande - tranquilamente, auxiliado por inteligência elevada. Formou-se e ocupou rapidamente cargo de direção em empresa importante. Ganhou dinheiro, continuou estudando e produziu conhecimento. Reuniu ao longo da vida inúmeras e verdadeiras amizades, ais quais prezava imensamente. Querido pelos amigos, estava sempre disponível para quem quisesse contar com sua amizade. Requisitado, estava em todas as listas de convidados. Social, recebia os mais próximos em casa. *** E foi justamente essa a questão crucial para Luana. Não, não se trata de sentimento incestuoso que se formou no coração da pequena. Eu explico. Primeiro ela adorou o irmão, como toda legítima representante feminina da família. Depois ela adorou tudo sobre ele, aí inclusos os ditos amigos que lá iam visitá-lo. Mocinha que era, eventualmente interessou-se por um em especial, justamente o mais parecido em beleza, inteligência e personalidade com Cláudio. Compreendeu que poderia se basear no irmão para investir no amigo. E foi reparando no irmão que finalmente viu a verdade mais escancarada. Foi buscando o que seria o par perfeito para Cláudio que chegou à figura de Carla. Só alguém como Carla satisfaria alguém como Cláudio. Esse foi um dia específico em que Luana se tocou. Ela não era como Carla e nunca teria alguém como Cláudio. Subitamente ela reparou que seu irmão era perfeito. E logo em seguida viu que sua irmã era perfeita também. Como poderia ser? Tentou fervorosamente mas não conseguiu achar defeitos nos dois. A verdade é que ela tinha um casal de irmãos igualmente lindos, charmosos, inteligentes, simpáticos, bem-sucedidos, queridos... isso pra falar as qualidades mais genéricas! E o que era ela? Nem isso nem nada. Uma menina comum. E neste dia Luana odiou os dois.

sexta-feira, 13 de abril de 2007

(Continuação do post anterior)
A irmã de Luana se chamava Carla e caminhava para os trinta. Na infância, Luana caiu no maravilhoso e romântico encantamento que se nutre pelas irmãs mais velhas. Carla não era uma irmã mais velha qualquer. Ela era sensacional. Não era só Luana que Carla deslumbrava, mas todos ao redor. Alta e linda de corpo, tinha o rosto perfeito. Belas mãos e seios, coxas fortes, barriga enxuta, quadris sensuais. O cabelo era impecável e brilhante, os olhos eram claros e o sorriso cativante. O nariz era fino, e as orelhas bem colocadas. Carla parecia uma Top Model. Mas não se interessava por moda, embora seu estilo próprio fôsse elegante e influênte. Muito simpática, tinha muitos amigos e muitos admiradores. Era boa e prestativa, delicada e generosa. Pensativa, era discreta. Observadora, era compreensiva. Entretanto, não se espantem, com todas essas qualidades, o que mais se destacava nela não era nem a aparência nem a personalidade. Isso porque Carla acima de tudo era um gênio. Não um gênio matemático ou físico, nem lingüistíco ou literário. Dominava toda e qualquer coisa que lhe era ensinada. Associava uma inteligência viva e desenvolvida a uma memória espetacular. Interessada por todas as áreas, era, todavia, apaixonada pelo clima. Tornou-se doutora em metereologia antes de se casar. Mas embora sua paixão por raios e furacões fosse marcante em boa parte de sua vida, nada era maior do que sua adoração pela irmãzinha caçula. Quando perderam a mãe Carla já era crescida e tomou Luana como sua própria cria. Não como filha, mas como fruto de sua educação. Eram apegadas e se divertiam juntas como se vê por aí nessas irmãs que se amam muito.

***

Como então explicar que Luana um dia viria a repudiar sua irmã? Devo dizer que posso determinar exatamente a causa. Luana idolatrou Carla até o dia em que, subitamente, começou a reparar em seu irmão.
(continua...)

segunda-feira, 9 de abril de 2007

Soltou um berro de indignação. Luana não suportava mais aquilo. Normalmente tinha bom limite de paciência, mas naquele dia esgotou-se facilmente.

***

Luana não era velha, muito moça na verdade. Tinha menos de vinte e era saudável. Possuía certa beleza, cabelos e dentes bem cuidados. Vestia-se com apuro. Tinha olhos escuros espertos, boca bem feita e bem usada. Falava bem. Seu corpo era proporcional e não era baixa. Luana tinha uma beleza muito sincera e não passava despercebida. Não ficava nisso. Estava na escola e era boa aluna. Ia além. Não só era estudiosa mas bastante inteligente e viva de pensamento. Uma moça realmente bem apessoada e simpática, que dificilmente não seria apreciada onde quer que sorrisse ou expusesse suas opiniões. Difícil então minha tarefa de explicar o porquê de Luana se sentir uma menina diminuída e azarada. Sentia-se ofendida e acuada. Devo advertir que a história é alarmante, pode parecer meio triste, e um tanto fútil, mas tentem compreender a pobrezinha. Eis Luana. Luana é a mais nova de três filhos de pais mortos. Sim, Luana ficou órfã de pai e de mãe aos 12 anos por causa de um acidente de carros. Mas não é por isso que ela é frustrada. Desde então Luana e seus irmãos foram morar com os avós, mudando de cidade, de ambiente, de amigos. Luana passou por esse processo, mas não é por isso que ela pena. Luana é caçula e cresceu paparicada por avós, tios e irmãos. Mas não foi isso que estragou Luana. Direi agora o motivo maior de desagrado para esta criaturinha. Não se choquem. O que consome Luana dia após dia é uma crescente, vigorosa e corrosiva inveja nutrida nos laços fraternais. (Continua...)