quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Grito de liberdade

Eis que
por trás das grades
aprisionado
amuado, sofrido, esganiçado
sem pompa
sem glamour
sem escola, sem raça, sem nobreza
sem banquete farto ou fêmea formosa
soou da janela
o miado do gato pela vizinhança.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Drão.

Dispensada cerimônia, caminhou sozinho o lavrador.
Tenra manhã, caminhou na terra úmida, nos charcos, no chão.
Em sua casa, paira sua ausência, e ninguém ninará o bebê.
Sob os primeiros raios do dia, pôs-se a rezar. Pôs-se a chorar. E pôs-se a cavar.
O semblante de trabalhador dedicado, o passo torto do homem acabrunhado, e a honra do pai que não há de se desesperar.
E não haverá que pensar em firulas, quando estão todos com saúde.
Não lamenta, nem pensa, nem se lembra, que nada há de viver para sempre antes de reviver em flor.
Morreu, e foi enterrada sozinha com seu nome:
semente.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

O segundo.

Diga de novo que não me quer de verdade
que também quero faz de conta
quero ser bobão antes de dormir

e na luz do dia achar graça de você.

É que seu jeito de dizer que foi invenção
é igual ao meu jeito de fingir
e negar sem fim sob tortura

que por um momento achei graça em você.

Mas o seu jeito de desmentir
que nem meu jeito de me esquivar
escondendo de tudo e de todos

que sequer por um momento pude querer você.

O nosso jeito de ser sempre o não
é nosso não, e nunca nosso fim
tão igual na negação

que começo a achar que em mim
_____________________________tem um pouco de você.