segunda-feira, 30 de junho de 2008

sexta-feira, 4 de agosto de 2006

Uma menina má como ela é de inspirar arrepios! Emanava maldade infantil, espalhava dicordia e sofrimento nas proporções da infância. Se no futuro Fulaninha jamais daria escova nos cabelos de tanto serem puxados, se Cicraninha já não tinha braço sem roxo para beliscar, culpa dessa menina má. Se a professora alérgica passava as tardes espirrando com o pulmões cheios do pó de giz estrategicamente colocados na porta de sua entrada, se a professora míope esmagou o nariz na parede pelo súbito sumiço de seus óculos, culpa da maldade da menina. Não fazia questão de ser criativa, mas se tornava, as vezes. Gatos da rua tinham rabos xamuscados, brincos na orelha, dentes pintados, linguas apimentadas, pelos depilados. Negros gatos que tiveram o azar de cruzar a rua em que morava uma menina tão má. Se prima Maricotinha ficou sabendo que tinha uma cara no nariz, já sabe quem avisou. Se prima Nicotinha descobriu que a palha de aço parecia com seu cabelo, ja sabe quem alertou. Se Tia Norinha não tinha percebido o quanto tinha estava balofa, ela percebeu. Se Tia Dalinha nunca tinha notado o quanto era vesga, ela notou. Não se incomodava de ser má, e fazia questão de que todos conhecessem e provassem de sua maldade. Foi crescendo. Aos 13 disse pra seu amigo Dudu que ele estava estudando pouco e que assim iria perder de ano. Perdeu de fato, e a achou muito má. Aos 14 disse pra sua amiga Lila que seu namorado não prestava, não gostava dela, e que devia a estar traindo. Estava de fato, e Lila a achou muito má. Aos 15 disse pra o Tico que não gostava nada dele, e que acabaria partindo seu coração. Partiu de fato, e ele a achou muito, mas muito má mesmo! Aos 16 disse pro Zeca que não queria nada com ele, mas ele nem ligou. Uma vez má, sempre má. Se apaixonou. Mesmo assim não deixou de ser maldosa. Gostava tanto dele, e se sentia insegura, transbordava de ciúme sufocante - para os dois. Ele achava que isso era uma maldade. Sabia que devia se livrar de tanto sentimento, mas continuava, e estimulava o gostar dele, que crescia, crescia... Brigavam, brigavam muito! Ele dizia: - Segue sua vida! Ela dizia: - Não posso! Ele achava que isso era uma maldade com ele, mas a apertava com força, com amor, com necessidade. Casaram. E não deixou de ser má depois de casada. Reclamava da toalha molhada, e da roupa espalhada. Reclamava da falta de tempo, e da pouca atenção. Ele achava uma maldade, e ela era realmente má. E sabia disso. Até que um dia se perguntou como poderia continuar sendo tão má com a pessoa que mais amava no mundo. Bom... Talvez ela não se acharia tão má, se soubesse que só por existir fazia de uma pessoa a pessoa mais feliz que existe... E isso não é nada mal.

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