quinta-feira, 3 de julho de 2008

terça-feira, 24 de abril de 2007

(Esqueci de dizer que o post anterior também continuava)
Na semana em que Carla ficou noiva Cláudio ganhou uma promoção. Era o emprego dos sonhos, diriam alguns. Era o esposo dos sonhos, diziam algumas. E para piorar receberam visitas. Naquela semana Luana teve que suportar longas horas de conversação voltada para o enaltecimento dos feitos dos irmãos, que acabaram por suplantar completamente a alegria que tinha começado a sentir pelo sucesso dos dois. O pior para Luana era ver falsidade e hipocrisia em cada olhar disfarçado pelos incontáveis sorrisos. Não seria lógico que só ela sentisse inveja, e não era. Mas todos na casa tinham que tolerar o choro de emoção das tias e os tapinhas nas costas dos vizinhos. Naquela semana só Luana teve tempo pra ela mesma, e em suas reflexões chegou ao seu limite. Foi quando soltou seu berro de indignação, meio sem saber ao certo com o que se indignar dentre tantas opções cabíveis. Não sabia se devia se indignar com sua irmã perfeita. Ficar indignada com a beleza, com o caráter e com a inteligência da irmã quando ela própria era tão menos. Indignar-se com seus atributos que tinham vindo todos pela metade. Ou talvez devesse se indignar com seu irmão perfeito. Ficar indignada com seu irmão tão bonito, cativante e bem sucedido, quando ela própria não tinha nada de seu. Indignar-se que não havia nada o que se admirar nela própria. Ou talvez fosse se irritar com o fato de ser admirada por eles. Que tinha Carla que ser presente, interessada, afetuosa, cuidadosa, e acima de tudo parecer tão sincera? Não era uma mulher perfeita que era sua irmã. Era mesmo uma irmã perfeita. E que tinha Cláudio que lhe aconselhar, motivar, ensinar, e até arrumar aquele namorado que ela tanto queria? Irmão perfeito também. Seu berro de indignação era por ver que todo seu ódio inflamado esbarrava no não ser.
Não era.
Não tinha.
Não odiava. Não aqueles dois.
Não eram pessoas a quem fosse possível odiar. Eles eram perfeitos.
Ela era tão comum que parecia gente. Tão gente que tinha sentimentos comuns. Odiava e amava, chorava e ria, dormia e acordava, comia, conversava, pensava, tudo dentro do mais rigoroso padrão do ordinário. E nada fora disso. Podia odiar o tudo que existia para odiar nos irmãos ou no que quer que fosse, mas esbarrava no que havia para gostar. E gostava também.
É isso.
Tudo normal, nada de especial.
Com altos e baixos, é verdade. Com mudanças de humor é verdade. Mas não podemos culpar Luana por ser humana.
Por ficar triste por bobagem.
Por berrar.
Por chorar.
Por chocar.
Por ser fútil.
Por ser apenas mais uma.
Não há nada de mais sobre ela.
Luana apenas tem uma natureza controversa. Como toda autêntica geminiana.
(FIM)

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