quinta-feira, 3 de julho de 2008

quinta-feira, 19 de abril de 2007

(Continuação dos posts anteriores, um pouco mais longa, admito)
Cláudio tinha mãos macias, dessas que fazem uma mulher olhar de novo para um homem que estava cumprimentando sem reparar. Mas não precisava das mãos para chamar a atenção feminina. Tinha um apelo absoluto entre o público do sexo oposto. O rosto angelical era emoldurado por um cabelo rebelde, que teimava em encobrir os olhos espertos e infantis. Num gesto rápido, lançava-os de novo para o lugar com um meneio de cabeça. Esse tique fazia suspirar de longe as inúmeras mocinhas em que despertava violentas paixões reprimidas. Se só com esse movimento involuntário que lhe acometia repetidas vezes no espaço de um minuto ele encantava-as, o que dizer de seu sorriso fácil, iluminado, sincero, impecável, que acompanhava o olhar profundo nublado pelos fios escorridos? Era arrebatador. Cláudio era um belo rapaz. Desde cedo adquiriu forte constituição, tinha os ombros largos e os pés grandes. Os músculos eram bem definidos, embora não tanto desenvolvidos. Mas não era um homem que se pode chamar de delicado fisicamente, tinha figura bastante expressiva, homem grande, na verdade. Era o irmão do meio, único homem, instituído prematuramente chefe de família. Função que desempenhou com responsabilidade que é rara em moços de sua idade. Fiel companheiro do avô - senhor correto - era, entretanto, rodeado de mulheres, seres pelos quais desenvolveu verdadeira devoção. Dedicado irmão, cuidava de perto da caçula, e aconselhava a primogênita. Tornou-se rapaz capaz de respeitar, compreender e admirar as mulheres como são pouquíssimos outros homens, de qualquer idade. Essa característica rendeu a Cláudio a preferência das avós e das tias, solteiras ou casadas. Das primas e das amigas das primas, mais novas ou mais velhas. Das antigas colegas da mãe, vizinhas, professoras, amigas, colegas, conhecidas, transeuntes. Afinal, era um rapaz adorável! Mas sobretudo porque era lindo de morrer. Sempre foi bom de notas e dedicado no estudo. Conciliava o aprendizado com suas inúmeras outras atividades - nelas incluídos os namoros, que por si só já ocupam tempo suficientemente grande - tranquilamente, auxiliado por inteligência elevada. Formou-se e ocupou rapidamente cargo de direção em empresa importante. Ganhou dinheiro, continuou estudando e produziu conhecimento. Reuniu ao longo da vida inúmeras e verdadeiras amizades, ais quais prezava imensamente. Querido pelos amigos, estava sempre disponível para quem quisesse contar com sua amizade. Requisitado, estava em todas as listas de convidados. Social, recebia os mais próximos em casa. *** E foi justamente essa a questão crucial para Luana. Não, não se trata de sentimento incestuoso que se formou no coração da pequena. Eu explico. Primeiro ela adorou o irmão, como toda legítima representante feminina da família. Depois ela adorou tudo sobre ele, aí inclusos os ditos amigos que lá iam visitá-lo. Mocinha que era, eventualmente interessou-se por um em especial, justamente o mais parecido em beleza, inteligência e personalidade com Cláudio. Compreendeu que poderia se basear no irmão para investir no amigo. E foi reparando no irmão que finalmente viu a verdade mais escancarada. Foi buscando o que seria o par perfeito para Cláudio que chegou à figura de Carla. Só alguém como Carla satisfaria alguém como Cláudio. Esse foi um dia específico em que Luana se tocou. Ela não era como Carla e nunca teria alguém como Cláudio. Subitamente ela reparou que seu irmão era perfeito. E logo em seguida viu que sua irmã era perfeita também. Como poderia ser? Tentou fervorosamente mas não conseguiu achar defeitos nos dois. A verdade é que ela tinha um casal de irmãos igualmente lindos, charmosos, inteligentes, simpáticos, bem-sucedidos, queridos... isso pra falar as qualidades mais genéricas! E o que era ela? Nem isso nem nada. Uma menina comum. E neste dia Luana odiou os dois.

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