quinta-feira, 11 de setembro de 2008

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Ela acordou assustada no escuro da madrugada.
Tateou freneticamente ao seu lado e desesperou-se ao ver que não tinha ninguém.
Sentou correndo na cama sem fôlego, tentando ver e sem enxergar.
Foi quando acalmou-se subitamente e lembrou que ninguém havia dormido com ela.
Lembrou também que era uma dessas pessoas solitárias.
Não sabia inclusive de onde tinha tirado essa idéia de que poderia haver alguém.
Culpou algum sonho bizarro de que não se lembrava e voltou a dormir profundamente, sozinha, como de costume.
Na tarde do dia anterior andou por uma calçada irregular que formava o caminho de um belo lugar. Andou em silêncio apreciando cada passo que dava, cada movimento que fazia. Estava encantada com sua própria presença num lugar que lhe agradava, e sentia-se mais que bem. Além do mais o sol lhe batia no rosto, esquentando a face, esquentando o corpo, e adorava a sensação do calor. Era apaixonada pelo sol, por isso. Antes que se desse conta, veio de longe um rapaz maltrapilho correndo aos pulos, como uma bailarina, gritando melodiosamente, como uma ópera "Dona! Dona!". Uma hora ouviu, e não pensou que fosse com ela, não era dona de nada. Um homem negro e gordo encostado num poste com cara de feliz da vida alertou "Moça!", e novamente não a convenceu. Não era nada moça. O menino finalmente a alcançou, parecendo alegre, e triunfou "Senhora, deixou cair seu lenço". Era dona afinal, dona do lenço. Olhou para o pedaço de pano que não lhe servia muito e com o qual não se preocupava. Olhou para o menino que esperava sua gratidão. Preferiu achar que esperava dinheiro, e lhe deu uma moeda. O garoto sorriu com surpresa, e ficou ele grato.
Como não lhe agradava conversar, restava-lhe pensar, e foi sobre aquilo que pensou no resto do dia, quando se pegava sem ter o que fazer. Divagou, filosofou, teorizou. Era mesmo uma típica anti-social.
Quando foi para casa à noite, preparou em silêncio seu jantar, não pensou em ninguém. Comeu em silêncio, não pensou em ninguém. E depois encontrou-se em suas leituras, entrou-se em seus escritos, fechou-se em seu mundo. Melhor dizendo, nunca esteve livre dele. Foi dormir bem tarde, sem querer ninguém ao seu lado.
Mistérios da noite...
Quando acordou de manhã já sabia que não haveria ninguém. Lembrava-se bem de que tinha dormido sozinha, e das mãos que procuraram sem achar de madrugada. Não conseguiu esquecer.
Olhou-se no espelho e viu a sombra arrocheada em volta dos olhos. Não piorava mais. Mas naquela manhã não gostou de suas olheiras, achou-se feia. Tinha tudo pra ser um dia de mau-humor.
Saiu então amarga, em poética antítese com a doce brisa da manhã.

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