domingo, 27 de março de 2011

A última dor

E nesse dia que me fiz bola em minha cama
encolhida, tentando caber num espaço menor
amassada como papel,
ouvindo barulho de água, da chuva e da pia pingando
da cozinha alagando,
da vizinha reclamando,
tentando
agradar meus gatinhos pra eles me deixarem em paz
nesse dia, pelo menos,
que me permiti sentir a última dor,
sentida em contagem regressiva,
nesse dia, que já se vai,
comemoro,
essa última dor,
porque ela tá aqui comigo,
como tinha que estar,
mas contando um a um, sem correr,
os segundos pra acabar.
Pois agora, que já há muito se foi o fim,
se vai o último resquício de mim,
e para de doer enfim.

Um comentário:

Ilana Guimarães disse...

Sintamos mesmo cada segundo de dor, que ela nos merece vivendo.
O alívio é muito mais autêntico e nobre.

Muito bonito, viu?