segunda-feira, 16 de maio de 2011

Fábula.

Eis que Narciso olhou contrariado uma imagem que era sua
pois que refletido via seu inverso e não o que esperava de si
Ao lhe sorrir direito o outro, sentia contrair em espanto seu lado torto
ao lhe acenar com o braço esquerdo, apenas endireitava indiferença e desdém
...quase avesso
Tomado por súbito terror, assombrou-se em catarse para averiguar aquilo que amava
seria seu puro interior que sempre havia admirado,
ou estivera sempre a contemplar tudo aquilo que não era?
Não sabia se devia mais se orgulhar de sua encantadora figura
pois que não se permitia enxergar além do que se refletia
e que percebia, agora, ser seu oposto.
Se contrariou em vergonha, e aceitou que se permitia amar outras formas de si, ainda que distorcidas e confusas, talvez incompreensíveis.
E em silêncio pediu perdão, mas se orgulhou, pois viu que seu amor, muito antes de egoísta, era fraterno.
Eis que a imagem no espelho contemplou Narciso, e pensou se ver, ao então perceber, que era um amigo que lhe sorria.

6 comentários:

Bruno Gomes disse...

Quando eu era adolescente eu odiava o Narciso.
Não apenas por ele rejeitar as ninfas e fazê-las sofrer, mas por ele ser bonito demais rsrs

Mas velho, após ler o conto de novo, percebi a grande profundidade psicanalista dele.
Na verdade, toda a mitologia é rica desse conteúdo, como o conto de Édipo, Electra, entre outros.

Abraços!

Ricardo Dib disse...

"...é que Narciso acha feio o que não é espelho." #Caetano

Ilana Guimarães disse...

Texto muuuuuito bom! Traz possibilidades interessantes para pensar Narcismo e narcisismo. Parabéns, Chandra!

Ju Marques disse...

Amigo dele próprio refletido no espelho, ou amigos que vê através se sua projeção... mas, ainda assim, amigos.

Ju Marques disse...

Ah! E amigos que sorriem... o que é um bom sinal! Beijo!

Chan. disse...

Ou... amigo que é espelho, inverso, pois.