Primeiro ergueria as paredes, querendo afastar os perigos. Ia querer cercar.
Depois construiria um telhado, querendo inibir o sol e o calor, a chuva e o frio. Ia querer cobrir.
Colocaria uma porta e trancaria. Ia querer me proteger e ser só contra o mundo.
E eu seria só enquanto viveria nesta casa que seria minha casa, com as coisas que seriam minhas coisas, e sentimentos que seriam só meus.
Ia querer me isolar atrás desses muros, andar pelos quartos e salas vazios, afastando todo o resto.
Me trancaria em minha casa mesmo sabendo que era a ti que eu mantinha do lado de fora.
E assim eu estaria a salvo.
Mas eu então, quem diria, sentiria falta do mundo. De viver como o mundo, e sentir como o mundo.
Sentiria saudade do sol e do calor, da chuva e do frio. E me veria desejando até o perigo.
Assumiria o risco.
E num ato de loucura, sim, loucura, viraria a chave, giraria a maçaneta, abriria a porta.
Como um milagre, ainda estarias lá.
E só então, quando entrasses enfim, minha casa deixaria de ser uma casa.
Se tornaria um lar.